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Morre a escritora Susan Sontag

Líder intelectual da metade do século passado em diante, a autora de Na América, Sobre Fotografia e Aids e Suas Metáforas, morreu de câncer em Nova York

Por Agencia Estado
Atualização:

A escritora Susan Sontag, que se auto-definia como "fanática pela seriedade", cuja mente arguta e prosa provocativa fizeram dela uma líder intelectual, uma grande figura pública a partir da metade dos anos 60, morreu hoje. Tinha 71 anos. Susan morreu nesta terça-feira pela manhã, informou uma porta-voz do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center. "A senhora Sontag morreu hoje às 7h10 da manhã", disse Joanne Nicholas, sem dar detalhes sobre sua doença. Mas, segundo o site do Los Angeles Times, ela sofria de leucemia. O câncer que a matou foi tema de um de seus livros mais famosos, o ensaio crítico A Doença como Metáfora, de 1978. Romancista, ensaísta, feminista, Susan foi uma das mais influentes intelectuais norte-americanas. Ela estreou na ficção em 2000, com O Amante do Vulcão, que lhe rendeu o prestigiado prêmio literário norte-americano National Book Award, mas o maior impacto causado por seus escritos ocorreu com os ensaios. Outro de seus ensaios famosos, foi o que escreveu sobre a aids. Ela publicou 17 livros que foram trauduzidos em 32 idiomas. Nascida em Nova York, em 1933, Susan estudou filosofia na Universidade de Chicago e fez pós-graduação em Harvard. Além de ensaios, escreveu também novelas e dirigiu cinema e teatro. Por quatro décadas seu trabalho ocupou um espaço proeminente no cânone contemporâneo, discutido em diversos fóruns, de seminários graduados a páginas de revistas populares. Os escritos de Susan causaram uma mudança radical nos postulados tradicionais da crítica. Seu livro mais recente, publicado no ano passado foi Diante da Dor dos Outros, um longo ensaio sobre o imaginário da guerra e do desastre. Um de seus últimos ensaios foi Diabnte da Tortura do Outro, em resposta às denúncias de tortura contra os prisioneiros iraquianos pelos soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, publicado no The New York Times Magazine, em 23 de maio de 2004. "Susan se portava como uma literata e uma filósofa dos problemas profundos da humanidade em nosso tempo", disse Arthur Danto, professor emérito de filosofia da Universidade de Columbia. Apesar de ser uma intelectual das mais sérias, Susan foi também uma celebridade popular, em parte por causa de sua aparência despojada, em parte por causa de seu discurso muitas vezes inflamado contra os políticos. Ela foi indubitavelmente a única escritora de sua geração a ganhar os prêmios máximos da literatura: o National Book Critics´ Circle Award, o National Book Award e o MacArthur), e ao mesmo tempo aparecer em filmes de Woody Allen e Andy Warhol, participando de vários eventos ícones da cultura popular do século 20. Para Susan, "cultura" abrangia uma vasta e potencialmente ilimitada paisagem. Ela escreveu estudos sérios sobre arte popular, como cinema e ficção científica, e escreveu ensaios sobre escritores e cineastas que admirava - muitos franceses - como Jean-Paul Sartre, Roland Barthes e Jean-Luc Godard. Publicou ensaios sobre fotografia, dança, aids, política e pornografia, transitando entre a cultura popular e a academia. Susan era conhecida também por seu ativismo em favor dos direitos humanos e presidiu, de 1987 a 1989, o Centro norte-americano PEN, a organização internacional de escritores dedicada à liberdade de expressão. Viajou para as regiões de conflito na Bósnia e em Sarajevo, fazendo campanhas de solidariedade. Criou polêmica com o Nobel de Literatura colombiano, o escritor Gabriel García Márquez, em abril de 2003, questionando seu silêncio, diante da execução dos três principais autores do seqüestro de uma embarcação cubana com 40 passageiros a bordo, ocorrida poucas semanas antes. Susan nasceu Susan Rosenblatt em Manhattan, no dia 16 de Janeiro de 1933. Na infância, viveu na China, onde seu pai morreu de tuberculose, quando ela tinha cinco anos. Deixa uma irmã mais nova, Judith Cohen, que vive em Maui, no Hawai e um filho, David. Ela ficou casada por oito anos com o sociólogo Philip Rieff, autor do célebre estudo Freud: The Mind of the Moralist, de 1959. Dizia que ele foi primeira pessoa com qual ela realmente podia conversar. Divorciaram-se em 1958. David, que nasceu em 1952, mora em Manhattan, Nova York, é jornalista e foi seu editor por muitos anos na Farrar, Straus & Giroux. Ele é autor de Slaughterhouse: Bosnia and the Failure of the West publicado pela editora Simon & Schuster, em 1995. O público leitor dividiu opiniões sobre Susan. Ela foi descrita como explosiva, anticlimática, original, iconoclasta, sofisticada, abrasiva, charmosa, condescendente, populista, superficial, ardente, brilhante, profunda, efusiva, soberba, banal, melancólica, bem-humorada. Mas ninguém a chamou de estúpida. A escritora visitou o Brasil algumas vezes e tem vários livros publicados aqui, pelas editoras LP&M (Sob o Signo de Saturno e Contra a Interpretação) e Companhia das Letras: Aids e Suas Metáforas O Amante do Vulcão Assim Vivemos Agora Diante da Dor dos Outros Na América Sobre Fotografia A Vontade Radical Leia algumas frases de Susan Sontag: A fotografia, que tem tantos usos narcisistas, é também um poderoso instrumento para despersonalizar nossa relação com o mundo. Como um par de binóculos sem pé nem cabeça, a câmera faz objetos exóticos ficarem íntimos e objetos familiares ficarem pequenos, abstratos, estranhos, muito distantes. A aids é o modelo de catástrofe que todas as sociedades abastadas esperam que vá ocorrer. Às vezes me perguntam como eu encontro tanto tempo para ler. Isso me assusta, porque, para mim, ler é muito mais simples que ver televisão. Machado de Assis desafia estereótipos. Curvado, mulato, se tornou um grande escritor: um provinciano brigando com o provincianismo. O ataque (contra o World Trade Center) não foi um ataque covarde contra a civilização, a liberdade ou a humanidade, mas um ataque contra a autoproclamada superpotência global, levado a cabo como conseqüência de alianças e ações específicas da América. Podemos nos perguntar quanto das torturas sexuais infligidas aos residentes de Abu Ghraib não foram inspiradas pelo vasto repertório de pornografia disponível na internet, e que pessoas comuns agora transmitindo a si próprias pela rede tentam emular.

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