Montalbán vai aposentar seu detetive

O escritor espanhol Manuel Vázquez Montalbán diz que vai aposentar seu célebre detetive Pepe Carvalho. Já o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez fala de seus personagens em palestra em SP. Ambos participam, da Bienal Internacional do Livro, no Rio

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Por Agencia Estado
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Pepe Carvalho prepara-se para uma longa e provavelmente, sua última viagem. Um dos detetives mais conhecidos na Espanha vai percorrer o mundo antes de se aposentar. "Com mais de 60 anos, não vejo motivos de Pepe continuar em ação", diz, para a reportagem, o escritor espanhol Manuel Vázquez Montalbán, criador do célebre detetive e uma das principais personalidades da Bienal Internacional do Livro. "Espero dar-lhe uma velhice digna, sem problemas na próstata e com tempo tranqüilo para viver." Carvalho surgiu em 1972, no livro Eu Matei Kennedy, e, desde aquela época, refletiu tanto a euforia utópica dos anos 70 como o conseqüente desencanto dos 90. Um reflexo do estado de espírito de Montalbán, escritor que se divide entre a ficção e a função de articulista político do jornal El Pais. Durante o mesmo período, ele revelou seu descrédito com a sociedade, culminando com um famoso ensaio, Manifesto do Planeta dos Macacos, em que se preocupava com um certo "cansaço da democracia". "Foi justamente na época em que Berlusconi foi eleito na Itália, nada mais que um político criado pela mídia, o que revelou um perigoso descaso da sociedade com as relações políticas", afirma o escritor. "E a situação continua, o que mostra a necessidade de mantermos sempre viva essa discussão." Em sua segunda passagem pelo Brasil (há 20 anos, teve uma breve estada no Rio e em Brasília), Montalbán mantém firme sua decisão de ser autor de um romance-testemunho, no qual mesmo as obras de ficção exibem uma reflexão sobre a realidade. "É preocupante o que acontece hoje na Espanha, onde a memória histórica, especialmente a do período de Franco, está desaparecendo", afirma. "Há pouquíssimo interesse em resgatar os fatos daquele período e, em 40 anos, se nada for feito, ninguém saberá o que realmente aconteceu." Cético nas análises políticas, Montalbán confidencia que deixa o racionalismo de lado ao tratar de outra paixão, o futebol. "É a melhor maneira de ser irracional", comenta o escritor, que vê o esporte como a principal religião do novo milênio. "Aqui já existe um fervor descomunal, que vai se alastrar."

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