Montagem teatral mergulha no universo de Alice

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Por Agencia Estado
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Tudo começou quando uma bela menina loira caiu em um buraco sem fim quando, em uma luminosa tarde de verão, corria numa campina inglesa atrás de um coelho branco de casaca e relógio de bolso. Esse mergulho no desconhecido, registrado em livro escrito em 1862, veio a ter repercussão mundial. Gerou, em uma corrente que até hoje não cessou, centenas de outras narrativas. Os paulistanos estão prestes a ver mais uma delas. Alice Através do Espelho, nova produção da Armazém Cia. de Teatro, surgida em Londrina e atualmente radicada no Rio, chega a São Paulo no dia 4 de janeiro para fazer temporada no Teatro da USP. O texto montado pela Armazém foi escrito por Maurício Arruda Mendonça, dramaturgista do grupo, que se inspirou nos livros de Lewis Carroll Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho e o que Alice Encontrou Lá. Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), era filho de um clérigo, escritor, professor de lógica e matemática, fotógrafo amador, diácono da igreja Anglicana e ardoroso admirador de ninfetas. Paulo de Moraes, diretor da Armazém Cia. de Teatro, que concebeu e dirigiu Alice Através do Espelho, tem em seu currículo montagens premiadas, como A Ratoeira é o Gato, A Tempestade e Sob o Sol em Meu Leito Após a Água. Alice foi até agora o maior sucesso da trupe. Estreou em Curitiba, em 1999, permaneceu 18 meses em cartaz no Rio, na Fundição Progresso, passou pelo festival de Porto Alegre e começa em 2001 sua temporada paulistana. Moraes reflete sobre a enormidade de símbolos e conceitos que brotaram da Alice no País das Maravilhas de 1862: ?Não sei se Carroll pensou em tudo que sua obra provocaria. A história, que ele escreveu tão tranqüilamente, inspirado em um passeio no campo com as filhas de um professor de Oxford, rompeu com a noção de espaço e tempo, propôs uma realidade diferente, que pega o que há de louco em nós. Essa quebra me interessa?. Foi o interesse pelo universo do sonhoque explorou em A Ratoeira... e Sob o Sol..., adaptado do Mahabharata, que levou Moraes e Maurício Mendonça a se interessarem por Alice. A montagem não é convencional. O público tem de acompanhar a ação. Quando a menina mergulha no buraco, atrás do Coelho Branco, os espectadores são convidados a ir atrás dela, descendo por um escorregador. Um enorme labirinto serve de cenário ao espetáculo, e os espaços vão sendo desvendados à medida em que a história avança. Tudo pode ter lugar apenas na imaginação de Alice. Ou pode ser que a história esteja acontecendo em um manicômio, com loucos fazendo as personagens de Carroll. ?Não gostamos das molduras convencionais?, lembra o diretor. "Carroll faz da filosofia uma grande arma de diversão, sem esvaziar o pensamento. Quisemos fazer um espetáculo lúdico, mas que fizesse pensar." O jogo proposto pela trupe deseja provocar sensações no espectador. ?A história é muito sensorial, e resolvemos que o público teria de experimentar as mesmas sensações de Alice. Pensamos muito em como fazer isso, e concluímos que a melhor forma seria colocar a platéia no centro do cenário. As platéias hoje estão amortecidas e são estimuladas por Alice Através do Espelho.? A história, segundo Moraes, ?é algo assim como um rito de passagem?, que fala dos desejos de uma menina transformando-se em mulher. ?Pretendo fazer teatro de jogo. Diversão e filosofia. Tanto uma delirante brincadeira quanto um desafio inteligente e instigante.? Uma dezena de atores vive todos os papéis. A bela Liliana Castro faz Alice, a ótima Patrícia Selonk é o Chapeleiro Maluco. Moraes assina a concepção do espaço cênico e os figurinos pertencem a João Marcelino. Dadas as características da montagem, o espetáculo comporta apenas 50 pessoas por sessão. Alice tem inúmeras traduções para o português. A mais elogiada, considerada padrão pela inventividade com que toureia as sutilezas e dificuldades do original, é assinada por Sebastião Uchoa Leite (editora Summus 1977). Reúne as duas histórias com ilustrações de sir John Tenniell, as mesmas da edição original de 1862. A obra está em catálogo. Além disso, as personagens de Carroll, entre elas o Gato, a Lagarta que fuma, o Chapeleiro Louco, a Lebre de Março, o Coelho Branco, a Rainha Vermelha, Humpty Dumpty, Twedledee e Twedledum aparecem em milhares de produtos, de papel de carta a camisetas e canecas. Uma pesquisa na Internet revela milhares de sites e páginas associados a Lewis Carroll e a Alice. A busca em um site de pesquisa resulta em 318 mil documentos dedicados ao autor e sua personagem. Um bom ponto de partida para quem quiser tomar contato com a Alice virtual é o endereço www.lewiscarroll.org, a home page que fãs dedicam ao escritor vitoriano. Alice Através do Espelho ? Com a Armazém Cia. de Teatro. TUSP (R. Maria Antônia, 294, tel.: 255-5538/7128). De 4 de janeiro a 18 de fevereiro. Quintas, 21 h. De sexta a domingo, 19 h e 21 h.

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