Monet em seleção didática e atraente

Escolha das 170 obras exibidas em Paris é resultado de pesquisa renovada

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Por Andrei Netto
Atualização:

Claude Monet é um dos ícones da cultura da França e da Europa desde o século 20. Suas obras estão expostas nos maiores museus do mundo e ocupam um lugar de destaque no templo do impressionismo, o Museu d"Orsay, em Paris. O jardim que tantas vezes o pintor reproduziu em suas telas foi reconstruído e seus recantos seguem floridos, plenos de cores e de turistas em Giverny, a 70 quilômetros da capital. Suas maiores obras, reproduções de nympheas, catedrais, paisagens rústicas, falésias da Normandia, são reconhecíveis com um golpe de olhar graças ao seu estilo inconfundível.Difícil então, ao menos à primeira vista, entender a badalação internacional criada em torno de Monet, a megaexposição em cartaz desde quarta-feira no Grand Palais, em Paris. Quem for acometido dessa primeira impressão, entretanto, está sob ataque da precipitação. Mais do que "mais do mesmo", a mostra é a primeira homenagem monográfica exclusiva e à altura do talento do mestre impressionista em 30 anos. Sua concepção é fruto de um trabalho de pesquisa renovado, comandado pelos comissários Sylvie Patin, Sylvie Patry, Anne Roquebert e Tichard Thomson, que parte de uma ideia banal, a organização da mostra por temáticas e, dentro delas, pela cronologia, desde seus primeiros trabalhos, em 1860, até a série de Nymphéas do Museu de Orangerie.A mostra se divide 170 obras em fases, uma primeira dedicada aos seus 30 primeiros anos de trabalho, no qual a marca são as paisagens de diferentes regiões da França. Lá estão La Falaise à Dieppe (1883), Sur la Falaise de Pourville (1882) e La Manneporte (1883), série que eterniza na história da arte as falésias da Normandia, na costa noroeste da França. Nessa época, ensina a exposição, Monet sedimenta seu olhar dinâmico da paisagem, capaz de se adaptar, transformando-se de acordo com o jogo de luzes e de cada condição natural. A seguir, a exposição se concentra sobre a natureza-morta em Monet e, surpresa para muitos, a representação humana. Então é possível admirar com novos olhos Femmes au Jardin (1866), que revela a habilidade quase fotográfica do artista em capturar as variações de intensidade do brilho de acordo com a incidência da luz solar.Em um segundo momento, o percurso explora a maturidade de Monet. Então com 50 anos, o pintor reduz suas peregrinações pela França e pela Europa em busca de paisagens populares e se refugia em um pequeno universo, seu jardim em Giverny. O que se vê é a conversão de uma fonte potencial de tédio em um objeto de estudo e aperfeiçoamento técnico quase inesgotável. Em seus jardins, Monet explora cada motivo de forma sistemática, acompanhando com olho clínico a evolução de seus temas de acordo com o ritmo da natureza, da luz à intensidade de cores e de vida de cada estação. Nesse momento, claro, é impossível não admirar Nymphéas (1904).Eis um dos charmes da exposição do Grand Palais: clássicos de Monet, verdadeiros hits da pintura, se misturam a telas de diferentes épocas menos conhecidas do grande público, como o retrato de Camille (1859), La Gare Saint-Lazare (1877) ou Le Parlement, Effet de Soleil (1903) - variação do célebre Le Parlament de Londres au Soleil Couchant (1903). Impressionismo. Além de render tributo ao mestre, o Grand Palais também inaugura um ciclo em Paris no qual o impressionismo parece voltar à moda. Do lado oposto da Avenida Winston Churchill, no Petit Palais, o pintor italiano Giuseppe De Nittis será em breve destaque de uma retrospectiva, 124 anos depois de sua última mostra na capital francesa. E, em janeiro, o Musée d"Orsay organizará um tributo a Jean-Léon Gérôme, contemporâneo do mestre.

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