Minissaia chega aos 40

Escola de moda em Niterói inaugura exposição de fotografia com desfile de modelos criados por futuras estilistas, provando que a minissaia muda, mas não sai de moda

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Por Agencia Estado
Atualização:

A minissaia faz 40 anos em 2004, mas a Escola de Moda Cândido Mendes, de Niterói (RJ), se adiantou na comemoração. Desde a semana passada, uma exposição de fotografias dos anos 60 ocupa o saguão do Teatro Municipal da antiga capital fluminense. A abertura foi na quinta-feira, com um desfile em que dez modelos usaram criações de futuras estilistas. E bota criatividade nisso, pois houve todo tipo de minissaia, desde a feita de canudinhos até uma composta por bonequinhas Fofolete. Até o fim do mês, as fotos e os modelos ficam expostos no tradicional teatro de Niterói. "Todo ano fazemos um evento como este para as alunas praticarem o que aprendem no período letivo. Elas têm toda a orientação do corpo docente e muita liberdade para criar ", conta a coordenadora do curso de Moda, Lilyan Berlin. "Apenas tentamos evitar que elas se prendam a materiais caros e preciosos porque moda tem que ser feita a partir do que há disponível. Este ano escolhemos a minissaia porque é uma peça de roupa que marcou toda uma geração, símbolo de um período de mudanças que duram até hoje." O desfile foi em homenagem à estilista Marília Valls, que nos anos 60 também fez sua pequena revolução na moda carioca. Na butique Blu Blu, mudou conceitos de vestir-se bem e criou um estilo que tem influência até hoje. A homenageada ficou contente com o que viu. "Mary Quant adoraria estas criações em cima da minissaia porque as novas estilistas usaram audácia e sensualidade. Moda é isso, liberdade e criatividade, duas coisas indispensáveis para quem pretende se dedicar a esse ofício", disse ela. "Mas acho que Coco Chanel não gostaria desse desfile porque ela era contra o joelho aparecendo. Imagine se visse tantas transparências." Há controvérsias sobre quem realmente criou a minissaia. Mas os historiadores de moda concordam que, em setembro de 1964, o estilista André Courrèges subiu as saias de sua coleção de verão cerca de 15 centímetros acima do joelho. Do outro lado do Canal da Mancha, em Londres, então capital das mudanças que iriam transformar o modo de ver o mundo, uma estilista estreante Mary Quant, radicalizou. Suas saias tinham 30 centímetros de comprimento, deixavam toda a perna de fora e eram usadas com blusas justas (a camiseta ainda era roupa íntima), botas e meias para fazer frente ao frio londrino. O sucesso foi imediato e se alastrou pelo mundo afora. Logo, toda garota descolada (ou prafrentex, como se dizia na época aqui no Brasil) tinha pelo menos uma minissaia, quando não todas elas (e os vestidos também) um ou dois palmos acima do joelho. Na Inglaterra, as modelos Jean Schrimpton, então noiva do galã Terence Stamp, e Twiggy eram as musas da nova moda. No Brasil, as cantoras Wanderléia, estrela da Jovem Guarda, e Nara Leão, a musa da bossa nova, defendiam nossa ousadia. Quem tem mais de 40 anos não se esquece dos joelhos de Nara, quando cantando A Banda, de Chico Buarque, num festival de música da TV Record, em 1966. Momento histórico - Há quem teorize sobre esse momento e o compare, com um certo desencanto, aos dias de hoje. A curadora do desfile da Cândido Mendes, Tatiana Rybalowski, por exemplo: "A minissaia chegou num momento em que a mulher começava a se libertar e serviu para acelerar uma tendência de comportamento. A mulher que usava minissaia estava dizendo - sou dona do meu corpo, mostro o quanto quiser e me entrego a quem escolho". Ela completa: "Hoje a moda perdeu essa atitude e virou puro consumo. Ninguém se veste para expressar um pensamento e a roupa tornou-se artigo descartável." As alunas, com idades entre 19 e 40 anos, não ligaram para teorias e preferiram abusar da criatividade e dos materiais recicláveis. A maioria dos modelos era básico, justo ou godê, mas houve minissaia de latas de coca-cola, de flores artificiais (rosas e girassóis predominaram), em couro, com lacinhos, fecho-eclairs, e até a que fechou a noite, mostrada no corpo da badalada Adriana Mattoso, feita com bolas de soprar, como se fosse um bolo vivo. O som, como não poderia deixar de ser, era dos anos 60. Beatles, Rolling Stones e Janis Joplin se alternaram nos 90 minutos do desfile. Só faltou mesmo gente de minissaia na platéia. Nem as alunas nem o público quiseram se arriscar. Tatiana, mais uma vez, comentou: "Elas não quiseram se destacar mais que os modelos que criaram". "Um dos segredos do bom estilista é nunca brilhar mais que os modelos que coloca na passarela."

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