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'Minhas filhas pensam que eu sou um perdedor', diz Woody Allen

Cineasta fala sobre seu novo filme e por que ele nunca tem uma noite em família em casa

Por ZORIANNA KIT
Atualização:

Depois do sucesso do ano passado Meia-noite em Paris, o cineasta Woody Allen está de volta com outra comédia passada na Europa, Para Roma com Amor, na qual ele também atua. Com um elenco que traz Alec Baldwin, Penélope Cruz, Ellen Page e outros, o filme retrata histórias entrelaçadas, incluindo a de um jovem (Jesse Eisenberg) no triângulo amoroso de sua juventude, um homem de meia-idade (Roberto Benigni) que se torna uma celebridade do dia para a noite e um agente funerário, cuja voz operática só ganha vida no chuveiro. O filme estreou nas principais cidades norte-americanas na sexta-feira. Allen falou à Reuters sobre o filme, suas próprias habilidades de canto e por que ele nunca tem uma noite em família em casa. Pergunta: Jessie Eisenberg parece interpretar uma versão mais jovem de um papel que você teria interpretado uma vez. Isso é verdade? Resposta: "Eu teria interpretado o papel de Jessie se eu fosse jovem. Eu sou um ator muito limitado, mas isso é uma das coisas que eu poderia fazer bem. Eu teria sido capaz de me prender com a (atriz) Greta Gerwig em um bom relacionamento, mas também ter a convidada misteriosa e sexualmente precoce (Ellen Page) em casa." P: Meia-noite em Paris se tornou o seu filme de maior bilheteria. Que ator interpretou você de forma mais eficaz na tela, Owen Wilson em Paris ou Jessie em Roma? R: "Owen fez um papel que eu teria feito anos atrás, mas sem fazê-lo como eu. Talvez porque Owen é tão caubói -- ele é do Texas. Ele é surfista e frequentador de praia. Ele é tão diferente de mim que ele poderia desempenhar esse papel, e você não iria pensar nele interpretando a mim. Jessie é urbano e muito parecido comigo. Eu teria feito aquele papel como Jessie. Talvez não tão bem porque ele tem essa entrega rápida e muito habilidosa, mas Jessie poderia interpretar personagens que eu interpreto de forma muito, muito eficaz." P: Você tem duas filhas adotadas com sua esposa Soon-Yi, que agora têm 12 e 13 anos. Vocês se reúnem para noites familiares e assistem seus filmes? R: "Não. Em primeiro lugar, nunca é noite em família. Mostrei à minha filha mais velha filmes de Alfred Hitchcock, e eu mostrei alguns filmes dos irmãos Marx. Eu nunca, nunca mostrei-lhes os meus filmes." P: Por que não? R: "Quanto menos eu as transformo em uma família do show business, melhor. Eu deveria ser um pai normal. Eu não quero que elas pensem em mim como seu pai, a celebridade. E elas não pensam. Elas pensam que eu sou um perdedor. Elas disseram, em termos inequívocos, 'oh pai, você é um perdedor!'. Sinto-me melhor sobre isso do que se elas fossem para a escola e dissessem: 'Oh, o filme do papai arrecadou 12 milhões de dólares na primeira semana'." P: Como é criar uma adolescente e uma quase adolescente? R: "É quase como se alguém lhes desse uma licença para dizer, 'Eu sou uma adolescente agora, posso me tornar terrível'. E elas se tornam terríveis. Você não pode imaginar o que essas crianças que eram tão dependentes de você -- e você estava se divertindo muito com elas - vão ser terríveis. Ou que você vai ser uma vergonha para elas. Elas não querem que você vá à escola para buscá-las. Elas não vão querer você na sala com seus amigos." P: Parece que isso poderia ser um enredo para um futuro filme? R: "Eu vejo isso como no máximo 2 milhões de dólares nas bilheterias. Ninguém quer ver esse filme." P: No passado, você disse que não se preocupava com bilheteria. R: "Eu não quero ver esse filme. É como mostrar fotos de seus filhos. Ninguém quer vê-las. Todos fingem e dizem 'Oh, linda'. A verdade é que ninguém se preocupa com seus filhos, ou com as histórias sobre eles, ou as coisas que disseram ou fizeram no outro dia. Eu não inflijo isso nas pessoas. Eu nunca carreguei fotos das minhas filhas por aí."

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