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Mineiro resgata em livro a história do faroeste

Por Agencia Estado
Atualização:

Na nota preliminar que abre seu livro O Filme de Faroeste (Instituto Triangulino de Cultura, 270 págs., R$ 20), Guido Bilharinho cita o grande Jorge Luis Borges, que dizia que, num tempo em que os homens de letras se descuidavam de seus deveres épicos, o gênero se conservava, muito curiosamente, graças ao western. Se um intelectual como Borges era pelo faroeste, quem há de ser contra? O gênero que já foi considerado um dos mais populares e, talvez, o mais popular do cinema norte-americano, anda abandonado. É compreensível. O western celebrou um tipo de heroísmo, erigiu valores, fez-se um santuário da discussão da ética por meio das virtudes de homens com um código tão rigoroso que não poderia mesmo resistir às transformações ocorridas a partir dos anos 60. Naquela década, surgiram os westerns crepusculares e desmistificadores. Nos 70, com a morte dos grandes autores, o western começou a ficar raro. Entrou, definitivamente, em crise depois que O Portal do Paraíso, de Michael Cimino, foi acusado de levar à bancarrota a empresa United Artists, no começo dos anos 80. Desde então, só Clint Eastwood ainda se mantém fiel ao gênero, embora até ele, há quase dez anos, não empunhe a pistola dos westerners - desde que Os Imperdoáveis ganhou o Oscar, no começo dos 90. Guido Bilharinho surgiu no cineclubismo, nos anos 60. É advogado de profissão, especializado na justiça do trabalho. Nas horas vagas, o cinéfilo, que ele nunca deixou de ser, banca o pesquisador e escreve livros. Bilharinho, de 63 anos, mora em Uberaba. Foi lá que criou o Instituto Triangulino de Cultura, uma ONG que se dedica à publicação de livros e à promoção de eventos ligados a cinema, poesia e outras formas de expressão. Pode-se imaginar quanto é difícil, numa cidade de interior, criar as condições para publicar livros de cinema e fazê-lo regularmente. Autor de Cem Anos de Cinema e Cem Anos de Cinema Brasileiro, de 1996 e 1997, Bilharinho criou, em 1999, a coleção Ensaios de Crítica Cinematográfica. Desde então, publicou O Cinema de Bergman, Fellini e Hitchcock, O Cinema Brasileiro nos Anos 90 e agora O Filme de Faroeste. Um livro por ano, todos os anos. Para 2002, Bilharinho planeja O Cinema Brasileiro nos Anos 80. Seu método é sempre o mesmo: escreve sobre os filmes e diretores que pode (re)ver em vídeo ou na TV, para reavivar a memória. Explica que é até por isso que seu livro exibe lacunas que podem ser consideradas imperdoáveis pelos fãs de westerns. Autores como John Ford, Howard Hawks, Anthony Mann e Raoul Walsh são discutidos e analisados. Obras cultuadas de diretores que nunca se identificaram muito com o gênero, como Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann, e Os Brutos também Amam, de George Stevens, também. Por opção - é um livro sobre o filme de faroeste nos EUA -, Bilharinho dá o mínimo de informações sobre o italiano Sergio Leone. Mas não foi por opção que deixou de fora outros autores. Um deles é justamente Budd Boetticher, que acaba de morrer. "Os grandes filmes dele são raridades que não passam na TV e não existem em vídeo no Brasil." Quanto a outra lacuna - o genial Rio Conchos, de Gordon Douglas, um dos maiores filmes, e não apenas westerns, dos anos 60 -, sua ausência ganha uma justificativa singela: "Nunca vi." Pode ficar tranqüilo, Bilharinho. O Telecine Classic, da Net/Sky, promete, para o ano que vem, a obra-prima de Douglas.

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