MinC suspende compra de livros para bibliotecas

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Por Agencia Estado
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O Ministério da Cultura anunciou hoje a reconvocação da comissão responsável pela seleção de títulos do programa "Uma Biblioteca em Cada Município". O fato se deu após a contestação de editores à lista de compras, publicada no final de novembro. O Minc está suspendendo temporariamente o processo de compra (que envolveria cerca de R$ 9 milhões, segundo a Secretaria do Livro e da Leitura), até que a comissão reexamine a lista a ser comprada e confirme ou não as escolhas. A lista de compra, elaborada pelo secretário do Livro e da Leitura Ottaviano de Fiore, tinha 1.129 títulos. A seleção original da comissão, composta por 19 pessoas, entre professores escritores e bibliotecários ligados à Universidade de Brasília, tinha um total de 3.138. Vários editores ouvidos pela reportagem afirmaram que esperavam uma redução de títulos na efetivação do processo, como de fato ocorreu. A contestação, portanto, está relacionada a outros fatos ligados à compra. Dois dias antes de anunciar os títulos, o governo incluiu mais 250 obras, relacionadas pelo Instituto Brasil Leitor e pela Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil. A lista de compra, contudo, não se limitava aos títulos relacionados na duas listas - a da comissão nomeada pelo ministério e essa adicional. Segundo 13 editores que enviaram um abaixo-assinado ontem ao ministério, há cerca de 700 títulos comprados que não constam da lista da comissão - e pelo menos 450 que não constam de nenhuma das duas listas. Segundo o secretário De Fiore, sua obrigação "não é aceitar a lista da comissão" e que incluiu na compra a quase totalidade dos que haviam recebido cinco estrelas pela comissão. Agora, a comissão vai avaliar a lista de De Fiore. De Fiore afirma que sua lista visou a preencher lacunas das anteriores e que, para tanto, se valeu de sua "experiência de leitor, pai e professor". O editor César Benjamin, da Contraponto, afirmou, antes da decisão de Weffort, que estudava a possibilidade de entrar com um mandado de segurança, para impedir a concretização da compra. "Ninguém sabe a origem nem o critério para a inclusão dessas obras", disse. "Há indícios de irregularidades no processo; na minha opinião, ele tem de ser interrompido." A Contraponto, do Rio de Janeiro, tinha 31 títulos na primeira lista, e ficou com apenas 1 na final. A Boitempo, de São Paulo, tinha 34 títulos, e acabou excluída da compra. Júlio Silveira, editor da Relume Dumará, afirmou que "a nossa situação é a mesma de todo mundo". "Eles estão se desdizendo", completou. A editora também ficou de fora da compra. Para Marlene Barbosa, sócia-proprietária da editora Beca (quatro títulos na primeira lista, nenhum na segunda), reavaliar a compra é uma atitude "elegante" do ministro Francisco Weffort. Lista - Dos 1.129 títulos que o governo decidira comprar 198 eram de apenas quatro autores (pouco mais de 17,5%). A lista total da edição deste ano do programa Uma Biblioteca em Cada Município conta com aproximadamente 660 autores, que dividem o restante da compra. Os autores mais comprados são Ana Maria Machado (68 títulos, entre os próprios e as adaptações), Ruth Rocha (60 obras), Sylvia Orthof (38) e Ziraldo (32). Em seguida, o único que ultrapassa os 30 títulos é Monteiro Lobato, com 31. Cada uma das 580 bibliotecas receberia, em média, dois exemplares de cada obra. Exceto no caso de Monteiro Lobato, que tinha 29 obras na lista da comissão, todos os outros tiveram o número de títulos multiplicado várias vezes. Ana Maria Machado tinha 22 obras, Ruth Rocha, 15, Sylvia Orthof, 10, e Ziraldo, 5. Questionado se não seria excessivo, numa biblioteca pequena, com menos de 1.200 títulos, haver essa concentração de obras de poucos autores, Ottaviano de Fiore respondeu que "os nossos bons têm de entrar todos". "Ana Maria Machado é Prêmio Nobel", argumentou, referindo-se ao prêmio Hans Christian Andersen, recebido pela escritora e considerado o mais importante da literatura infanto-juvenil. Segundo De Fiore, a grande demanda de uso das bibliotecas por crianças fez com que sua secretaria decidisse priorizar a compra de obras infanto-juvenis, embora essa não seja a vocação expressa das bibliotecas que o ministério está criando. "O próximo passo é perguntar se esses autores são meus amigos; eles são meus amigos, são, mas isso não muda nada", disse ele. "O Brasil tem de se orgulhar de seus autores de obras infanto-juvenis, que são muito bons." A lista do ministério não é de fácil consulta. Não é possível saber, por exemplo, de que editoras o ministério estava realizando a compra. Organizada pela ordem alfabética dos títulos, também não permite uma fácil percepção da composição da biblioteca. Além disso, há problemas de grafia: Honoré de Balzac virou Nonoré de Balsac, a antropóloga Betty ora é Mindlin, ora Mindley, Mircea Eliade é também chamado de Miecea. Segundo Ottaviano, a grafia incorreta reproduz incorreções contidas nas fichas da editoras.

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