Minas são parte do cotidiano de duas, três gerações

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Por Agencia Estado
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Há 100 milhões de minas enterradas em 70 países do mundo, e cerca de um décimo está em Angola. "No Cuando Cubango, onde se supõe que estão 45% das minas de Angola, são elas a principal população. Gente sempre foi pouca, e nestes anos tem morrido muita", escreve ele. "É uma das zonas mais fechadas do globo, um verdadeiro buraco no mapa, mesmo para a população da região", conta Rosa Mendes, de Lisboa, por telefone. Ele já esteve em outras regiões de difícil acesso, como a Amazônia boliviana e a brasileira (diz ainda que gostaria de morar em São Paulo). Para realizar a viagem, ele contou com uma bolsa de uma instituição privada portuguesa, de cerca de R$ 20 mil, insuficientes, porque os preços na capital angolana, Luanda, têm níveis extremamente elevados. "Só Tóquio tem preços mais altos", conta. Rosa Mendes confessa que a viagem era, para ele, mais importante que o livro, mas escrevê-lo foi uma oportunidade para registrar "as histórias de pessoas que estão há duas, às vezes três gerações correndo permanente risco de vida, pois o nível cotidiano de violência é elevado ao limite; Luanda é o fim do mundo", lembra, mais do que diz. E, nesse mundo, Rosa Mendes afirma ter encontrado pessoas com coragem e imaginação fora do normal. "Eles têm uma relação diferente, inclusive com o próprio corpo, com a linguagem; o português de Angola é uma língua muito viva, porque essas situações extremas, essas más razões exigem uma linguagem nova", completa. Angola foi, de longe, o país em que Rosa Mendes correu mais riscos. Para ele, ao contrário do que acontece em Moçambique, em que, depois de 17 anos de guerra civil, haveria uma cultura da conciliação, em Angola as feridas, em vez de fecharem, estariam se abrindo. Na opinião de Rosa Mendes, "a África foi jogada fora pelo capitalismo." E ajuda a abrir os olhos do mundo para a África: seu livro deve ser publicado na Espanha, Itália, Alemanha e França, além de Brasil, ainda neste ano.

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