Mil compassos

PUBLICIDADE

Por JOÃO MARCOS COELHO
Atualização:

"Pena que não aconteceu nos meus 25 anos", diz rindo matreiramente o compositor Gilberto Mendes, a respeito do CD inteiro só com suas obras que a Osesp está gravando este mês na Sala São Paulo, comandada pela jovem regente mexicana Alondra de la Parra. Ele completará 90 anos em 2012. Agora, imaginem se isso tivesse mesmo acontecido quando tinha 25 aninhos: hoje ele teria em seu catálogo pelo menos o dobro de sua produção sinfônica. Daí a importância das encomendas a compositores contemporâneos, que podem sim até alterar o seu desenvolvimento criativo. Do lado das orquestras, encomendar obras é não aceitar passivamente seu status de museu das obras-primas do passado.Hoje, às 11 horas, orquestra e regente apresentam-se no concerto gratuito na Sala São Paulo Vanguarda e Bom Humor!, para refazer ao vivo o repertório do primeiro CD sinfônico da carreira do compositor santista - sem dúvida, o mais importante criador musical contemporâneo brasileiro vivo. Concerto e gravação incluem peças emblemáticas como a abertura Issa, Alegres Trópicos, Rastro Harmônico, Partitura: um quadro de Gastão Z. Frazão. Mas o bônus fica só com a apresentação de hoje: seu maior hit no mundo inteiro, o Motet em Ré Menor, mais conhecido como Beba Coca-Cola.Ele não gosta muito de se afastar de sua querida Santos, mas fez algumas exceções esta semana, só para acompanhar de perto as gravações sinfônicas. Afinal, os compositores contemporâneos têm tão poucas chances de ver sua música executada por uma orquestra sinfônica que o gênero acaba ficando marginal em sua produção. Por isso mesmo, Gilberto admite: "sempre fui autodidata, principalmente em música orquestral. Neste disco está quase tudo que escrevi para orquestra, o que não é muita coisa. Aprendi a orquestrar basicamente com Beethoven, a sexta e sétima sinfonias, e momentos de obras de outros autores, principalmente Ravel, Villa-Lobos, Stravinski, Bartók."O CD é representativo. Issa, uma de suas preferidas, foi composta em 1995 como abertura de uma ópera que iria compor sobre libreto de Décio Pignatari. As três obras seguintes nasceram por encomendas (e a quarta, não incluída neste CD, também foi encomenda). Duas foram iniciativa da Osesp. A Partitura foi escrita em 1985 a pedido do maestro Eleazar de Carvalho, que não chegou a regê-la.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.