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Miele: Personagem de si mesmo superava qualquer papel

'Mandrake', primeira produção da HBO no Brasil, resgatou sua moldura cult

Por Cristina Padiglione
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A presença de Luiz Carlos Miele em um set de TV era humor certo no estúdio e na tela do espectador, mesmo que a função a ele destinada não flertasse com o riso. Dono de um vasto histórico boêmio e de créditos que remetem à nata do entretenimento nacional, Miele era personagem maior que os papéis que representou. Poderia até se dar ao luxo de apresentar um programa de gosto duvidoso, como o finado ‘Cocktail’, onde mulheres de corpos esculturais desfilavam em trajes mínimos, no SBT dos anos 90, que ninguém haveria de vê-lo como asqueroso. Se o papel pedia um cafajeste, invariavelmente, ele era o mais adorável deles, sem jamais perder a elegância. Foi a música que levou Miele à TV, mas essas lentes, sempre tão carentes de um bom contador de histórias, transformou o homem em um curinga para todas as cenas.

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Sempre bem alinhado dentro de sua coleção de smokings, fez história na era de ouro da música brasileira na TV. Dirigiu ‘Noite de Gala’ e ‘Cara & Coroa’, com Dori Caymmi e Silvia Telles, na TV Rio. Fez ‘Dois no Balanço’, uma versão de ‘Se meu apartamento falasse’ (com Cyl Farney e Odete Lara), ‘Rio Rei’, ‘Os 7 Pecados’ (com Fernando Barbosa Lima) e ‘Musical em Bossa 9’, na TV Excelsior, ‘O Fino da Bossa’, ‘Show em Simonal’ e ‘Elis Especial’, na TV Record, ‘Alô Dolly’, ‘Dick & Betty 17’ (com Dick Farney e Betty Faria), atuou na direção de musicais no ‘Fantástico’, sentou no banco da ‘Praça da Alegria’, de Manoel da Nóbrega, brilhou com Sandra Bréa em ‘Sandra & Miele’, dirigiu Marília Pêra em ‘Viva Marília’ e cuidou dos musicais de Flávio Cavalcanti. Na TV Manchete, fez ‘Ele & Ela’, com Leila Richers, e até ‘Escolinha do Barulho’, na TV Record.

Em 2005, a produtora Conspiração trouxe Miele de volta à moldura cult, ao colocá-lo em cena como Wexler, na série ‘Mandrake’, baseada na obra de Rubem Fonseca. Foi a primeira produção da HBO no Brasil. Voltou a ser lembrado por produtores de elenco como figura capaz de valorizar um set, como nas séries 'O Brado Retumbante', com Domingos Montaigner, ‘A Teia’, ao lado de João Miguel, e na novela ‘Geração Brasil’, com Cláudia Abreu.

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