
22 de setembro de 2013 | 02h18
E não ficou nisso. Faz seis meses que, vira e mexe, de corpo presente ou pela internet, me aparece alguém com achados para alimentar novas rodadas de substantivos que são, ao mesmo tempo, próprios e comuns. Na suposição, quem sabe procedente, de que reincidir no assunto seria incorrer no risco da chatice, deixei de lado o arsenal que não parava de crescer. Até que, na semana passada, meu amigo Flávio me trouxe uma surpresa: ao contrário do que afirmei numa das crônicas sobre o assunto, com o tom de superioridade de quem se julgava a salvo de ambiguidades, existe, sim, algo que se chama Humberto e que, como este cronista, também já teve dias melhores.
Mas vamos, antes, ao pessoal que me faz companhia nessa comprida e por vezes desconfortável fila. Caso do Roldão, que segundo o dicionário Houaiss é sinônimo de falta de ordem, bagunça ou, para rimar, confusão e desorganização. Ou do Elmo, que além do manjado capacete medieval identifica, eca, a "crosta escura que, por falta de asseio, se forma do couro cabeludo das crianças". Por que só das crianças? Não me parece justo.
O João, por sua vez, vem a ser um grande atabaque que pontua o jongo paulista, e uma árvore da família das sapotáceas - mas também um "jogador que é facilmente driblado". Para o escorregadio Garrincha, João era qualquer dos infelizes que tentavam neutralizar seus dribles. No mesmo terreno, seu colega Jairzinho, herói da Copa de 1970, veio a batizar um exercício para fortalecer os quadríceps e os glúteos. Sempre haverá quem transpire na manutenção de inspiradoras preferências nacionais.
Bia, no Norte e no Nordeste, é cerveja, assim como em alguns lugares Juçara e Cândida são o mesmo que cachaça. Cândida, coitada, é também um fungo dos mais inconvenientes - capaz de assolar, entre outras partes, o Bráulio, apelido que o Ministério da Saúde houve por mal propor, tempos atrás, para o chamado membro viril, iniciativa contra a qual imediatamente se ergueram Bráulios do Oiapoque ao Chuí, derrubando-a a pauladas. Mais sorte tem o Apolo, que quer dizer "homem belo, forte, elegante", além de uma borboleta e de um instrumento da família do alaúde.
Razões não têm para reclamar o Frederico, nome também de uma moeda de ouro da antiga Prússia, e o Nestor, assimilado a homem idoso e de grande sabedoria, num eco da Ilíada de Homero, de que é personagem. Quanto à Isabel, por mais que ame os animais, talvez maldiga quem teve a ideia de atribuir seu nome a um cavalo, ainda que belo, de cor branco-amarelada e patas e crina negras.
Laura já foi, nos primeiros tempos da Igreja, a "cela ou antro em que viviam os anacoretas". Rosa, além da flor, remete a "mulher bela" - e, de quebra, a uma "peça de latão, ornada com lavores, que serve para dourar os livros". Silvano tanto pode ser uma divindade da mitologia que reina sobre os campos e bosques, como um "indivíduo rústico, camponês rude". Dídimo estará perfeito para um gêmeo, pois significa "o que se desenvolve aos pares"; problema: que nome dar a quem, tendo chegado ao mundo ao mesmo tempo, não é menos dídimo que o outro?
Mas, afinal, e o Humberto acima referido? Trata-se, explica o Flávio, de um ciclone, fenômeno que no Hemisfério Norte costuma ganhar nome de macho. Segue-se a ordem alfabética, e estamos na letra H - circunstância que acabou me proporcionando uma coincidência: o ciclone que precedeu Humberto se chamou Hugo, nome de meu pai e meu avô.
Posar de xará de algo impetuoso seria ideia até simpática, não fosse o fato, informam os técnicos da NASA, de que Humberto está perdendo as forças - ou, na crua tradução do Flávio, "brochando", com o agravante de que não há viagra capaz de empinar ciclone esmorecido.
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