
27 de maio de 2010 | 00h00
A vitória não foi da realidade do dinheiro sobre a especulação filosófica, foi de uma irrealidade sobre outra. As duas metafísicas se parecem. Como são feitas no ar, só têm os limites que elas mesmas se dão. Aqueles concílios da Igreja em que discutiam coisas como quantos anjos poderiam dançar na ponta de um alfinete são os antecedentes diretos dos conluios do capital financeiro que geraram as pirâmides de papel desligadas de qualquer lastro real, para o dinheiro produzir cada vez mais dinheiro, cada vez mais abstrato. Na questão dos anjos a discussão era entre os que diziam que o número de anjos que cabiam na ponta de um alfinete era limitado e os que diziam que era infinito. As mesmas especulações etéreas eram feitas sobre até onde poderia ir a farra do capital especulativo. O que a atual crise mostrou é que o número de anjos é finito.
Mas as metafísicas se autoregeneram. A Crise tem significado uma espécie de Purgatório para o capital financeiro descontrolado, mas nenhum dos seus beneficiários acabará no Inferno. Wall Street reage e retoma seus maus hábitos, na Europa optou-se por um adiamento do pior em vez de uma solução. A metafísica medieval, herdeira da metafísica grega, pelo menos garantia a remissão dos pobres e dos virtuosos no fim dos tempos. A metafísica do mercado só garante felicidade para os espertos.
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