Mestres discutem Sérgio Buarque

Estado promove encontro de especialistas na obra do historiador, que tem livros com textos raros lançados

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Por Antonio Gonçalves Filho
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Para discutir a coletânea Escritos Coligidos de Sérgio Buarque de Holanda (Editora Unesp/Editora Fundação Perseu Abramo), dois volumes com artigos publicados pelo historiador em jornais e revistas nacionais e estrangeiros - alguns inéditos no Brasil -, o caderno Sabático, suplemento de livros do Estado, e a Unesp promovem amanhã, às 19h30, na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, um encontro de especialistas em sua obra. Participam do debate, mediado pelo professor de teoria e história literária da Unicamp Francisco Foot Hardman, os professores Marcos Costa, organizador da coletânea, Antonio Arnoni Prado, Sergio Miceli e Robert Wegner. Os dois volumes com os escritos do historiador foram organizados de forma cronológica. No primeiro estão os textos de juventude, desde um dos primeiros, sobre o imperador d. Pedro II, escrito aos 18 anos, até um artigo de 1949 sobre a política de Ruy Barbosa (1849-1923), publicado por ocasião do centenário de nascimento do jurista, diplomata e filólogo baiano. No segundo livro foram agrupados os escritos de maturidade, começando por artigos que analisam livros de história da literatura brasileira, publicados em 1950, e concluindo com textos produzidos para jornais paulistanos nos anos 1970, inclusive o Estado, de quem Sérgio Buarque de Holanda foi colaborador. Esses textos vêm sendo pesquisados desde 2003 pelo professor Marcos Costa, autor de uma tese sobre o historiador apresentada há quatro anos na Unesp. "Entre os textos há inéditos no Brasil, escritos quando ele ainda estava na Alemanha." De 1929 a 1930, o historiador foi correspondente dos Diários Associados em Berlim e o livro traz artigos publicados na revista alemã Duco. Entre eles há um sobre Júlio Prestes e outro sobre a moderna literatura brasileira, em que comenta com entusiasmo o recém-lançado Macunaíma, definindo a obra de Mário de Andrade como um romance que lembra Rabelais e Grimmelshausen. "O contato com o pensamento alemão foi fundamental para que Sérgio Buarque de Holanda desenvolvesse outra visão do Brasil", observa o organizador da coletânea. Especialmente o pensamento de Max Weber (1864 -1920), conclui. "Ele volta no caldeirão da Revolução de 1930 e encontra uma sociedade conservadora", afirma o historiador, destacando sua participação como crítico literário no período. Os anos 1940 seriam marcados por um interesse cada vez mais acentuado na historiografia, particularmente na crítica ao discurso oficial dos historiadores da época. "Ele vai na contramão de nomes consagrados depois de Raízes do Brasil." O livro foi publicado em 1936 e virou um clássico, como Visão do Paraíso (1959). "Nesse livro ele amadurece o trabalho desenvolvido em Monções (de 1945)", analisa Marcos Costa, que mostra como o historiador paulistano evoluiu nos anos 1950 depois de lecionar em Roma e pesquisar para escrever Visão do Paraíso.

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