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Mestre de bateria

Quem disse que João Gilberto, The Doors, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Cat Stevens não têm nada em comum? Têm sim. Todos eles sabem o que é estar ao lado de Chico Batera

Por Eric Nepomuceno
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São 4 da tarde de um dia de semana e ele, camisa amarela e andar gingado, chega a uma antiga tabacaria na Praça XV, no centro do Rio. Pede um café e vai até uma prateleira cheia de potes de vidro que abrigam diferentes tipos de fumo. Escolhe um, volta para a mesa e prepara um cachimbo que não será aceso durante as próximas três horas. Tem 67 anos e muito mundo nas costas.De acordo com a carteira profissional expedida em junho de 1960 pela Ordem dos Músicos do Brasil, o instrumentista Francisco José Tavares de Souza, nascido no Rio, dia 8 de abril de 1943, está cumprindo este ano 50 anos de profissão. Já Chico Batera, um dos percussionistas mais experientes e prestigiados do Brasil, diz, como quem não gosta de se levar a sério, que cumpre 50 anos de batuque.A mãe, Dalila Velloso, era professora de piano em Madureira. Na casa de subúrbio havia também os saraus, e ele recorda as tias cantando e o tio, Arlindo Velloso, da ala dos compositores da escola de samba Império Serrano, tocando violão e batucando. Com o tio frequentava os ensaios da Império, e diz que ali começou sua formação. Em Madureira, batucar era a coisa mais natural do mundo.Aliás, continuou sendo, mesmo depois que ele estudou música a sério. E foi batucando que gravou e se apresentou, mundo afora, com Tom Jobim, Michel Legrand, Henry Mancini, Quincy Jones e Dave Grusin, acompanhou Ella Fitzgerald, Cat Stevens, Joni Mitchell, João Gilberto, e tocou com grupos importantes, como The Doors ou o de Sergio Mendes. Houve ainda o formidável trio que integrou, nos Estados Unidos, com o baixista Tião Neto e o violonista Bola Sete, um dos ícones fundadores do latin jazz. E isso, para não mencionar suas gravações com Frank Sinatra, no segundo álbum com Tom Jobim. No Brasil, a lista é praticamente infinita: tocou (e ainda toca) com os maiores e melhores.Chico lembra quando, levado pelo tio Arlindo Velloso, conheceu, no fim dos anos 50, os estúdios de gravação da Continental e da Copacabana, na Avenida Rio Branco número 47. Os maestros que escreviam arranjos e regiam as orquestras eram Guerra Peixe e Radamés Gnatalli.

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