A oscilação do caráter da Clara foi uma manobra para brincar com o público ou há alguma "moral da história", que mostraria que ninguém se regenera assim, de uma hora para outra?
Acho que tudo junto. Tenho a impressão de que a Clara seria sempre mau-caráter, fosse criada pela Valentina (Daisy Lúcidi) ou pela Bete (Fernanda Montenegro). Acho que, independentemente de tudo, o ser humano nasce com um gene que vai influir e ser definitivo no seu caráter. Daí por que fiz a Kelly (Carol Macedo) tão diferente da Clara. Clara gosta de Kelly, não por ser boa, mas porque gostar de alguém que tem bons sentimentos, faz com que ela desculpe para si mesma a sua vilania, além de dar a ela uma desculpa nobre: faço o que faço para proteger a minha irmãzinha. Mas, na verdade, ela está fazendo para ela mesma e não para Kelly. A atitude de Clara é absolutamente coerente dentro da história. Incoerência seria ela ficar boazinha.
A Clara disse que tem nojo do Totó, porque ele a faz lembrar dos homens mais velhos que abusaram dela. Você, como autor, tem pena dela?
Não. Apesar da infância horrível e da péssima formação, ela teve todas as oportunidades de ter uma vida decente. Totó disse isso para ela lá pelo meio da novela, quando descobriu o seu verdadeiro caráter. Mas Clara não tem chance de mudar, porque coloca o ódio e a revolta sempre à frente do seu raciocínio, como se quisesse culpar todos pelas suas desgraças. Nesse ponto ela e Fred (Reynaldo Gianecchini) são iguais, sociopatas, amorais que se apegam a fatos da infância para justificar suas fraquezas e seu mau-caratismo.
A audiência e a repercussão da novela atingiram as suas expectativas?
Posso dizer que foi muito além. Passione é comentada em todos os cantos do País. Os atores e atrizes estão nas capas de todas as revistas e todo mundo tem uma opinião, não importa se positiva ou negativa, sobre a novela. Não sei mais o que eu poderia esperar.
Haverá um esquema especial para preservar o segredo da trama até o fim?
Já, mas eu não conto qual é para que ele não seja furado.
