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Mesa

Uma barata no tiramisú! A saúde pública vem aqui na mesma hora. É isso que você quer?

Por Luis Fernando Verissimo
Atualização:

-Iiih, tá cheio. - Espera aqui que eu vou falar com o maître... - Tá bom. - Ó amigo. - Pois não? - Tem aí uma mesinha pra dois? - No momento, não. Mas se o senhor quiser esperar... - Quanto tempo? - Dois minutos. Uma mesa já pediu o cafezinho. - Não, é o seguinte. Minha namorada queria muito vir a este restaurante e eu não posso fazer feio com ela, entende? Não dá pra dar um jeitinho? - Infelizmente, não. Mas se o senhor puder esperar três minutos... - Você disse dois. - A mesa já vai ficar vaga, cavalheiro. - Não dá pra dar uma apressadinha? Olha, você não vai se arrepender... Tome aqui... - Não, muito obrigado. - Grande. Encontrei um brasileiro que não aceita propina! Ainda há esperança. Estamos salvos. Chama o Janot! - É só ter um pouco de paciência, cavalheiro. Um minuto. - Mas esse cafezinho não acaba nunca! - Eles podem ter pedido um licor depois do café. - Um licor?! Quem é que toma licor, hoje em dia? Assim já é demais. Eu vou tirar eles dessa mesa a tapa. - Por favor... - A tapa! Qual é a mesa? - Acalme-se. - Eu estou calmo. Me mostre qual é a mesa. - Por favor, cavalheiro, solte as minhas lapelas. - Qual é a mesa? - É aquela ali. - E estão mesmo tomando licor. Isso é o fim. A gente já tem medo de sair à noite por causa dos assaltos e quando sai, dá nisso. Já viram que eu quero a mesa deles e estão fazendo de propósito. E você é cúmplice, patife. - Controle-se. - Escuta aqui. Você obviamente não me reconheceu. Ator. Novela das nove. Olha o perfil. Uma recomendação minha e toda a Rede Globo baixa aqui. - Sim, mas... - Ou então, se você preferir, eu posso espalhar que esse restaurante é uma porcaria. Que eu encontrei uma barata no tiramisú. - Por favor, cavalheiro. - Uma barata no tiramisú! A saúde pública vem aqui na mesma hora. É isso que você quer? - Não, cavalheiro, eu... - Está bem. Eu não queria fazer isso, mas sou forçado pela sua má vontade em nos arranjar uma mesa. É contra os meus princípios, mas vou lhe dar um carteiraço. Eu sou da Polícia Federal. Serviço Secreto. Olha aqui minha identidade. - Mas esta é sua carteira de motorista. - E você acha que eu ia andar com uma carteira do Serviço Secreto no bolso? A carteira de motorista faz parte do disfarce. E meu nome também não é esse. Arranje-nos uma mesa ou prepare-se para ter sérios problemas com a polícia.  - Olha lá, eles estão pagando a conta. Eles já vão sair.  - Eu sabia que meus argumentos acabariam por convencê-lo, amigo. Obrigadão!

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