11 de março de 2021 | 15h00
A comunicação explica o machismo como um problema cognitivo, que está inserido no conhecimento e nas falas diárias. O feminismo existe para ajudar as pessoas a perceberem o jogo de poder em suas vidas, na dinâmica do dia a dia e nas relações pessoais e profissionais. As ferramentas da comunicação podem ajudar nesta luta ao serem usadas para identificar e combater o machismo estrutural, conforme explica a comunicóloga Maytê Carvalho em entrevista ao Estadão.
Autora do best-seller Persuasão e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Casa do Saber, Maytê explica que a fala machista pode ser passivo-agressiva, quando insinua o desmerecimento da mulher, ou pautada em falácias. Nesta última, estão os conhecidos os falsos dilemas, como as mulheres precisarem escolher entre a carreira e os filhos, ou a generalização, que perpetua falas machistas ao reproduzir estereótipos, por exemplo: “toda mulher dirige mal”. “Falácias são afirmações feitas sem estarem pautadas na prova lógica, sem razão. Numa sociedade em que o machismo é estrutural, esse tipo de pensamento, de linguagem, segue sendo reproduzido. É preciso estar atenta.”
Segundo ela, existe uma estratégia que pode ser usada pelas mulheres para confrontar as falas machistas: a técnica do isopraxismo, também conhecida como espelhamento. “Repita em tom de pergunta a afirmação machista para o interlocutor. Ao fazer isso, pelo menos duas a três vezes, a pessoa acaba percebendo o absurdo da sua colocação ao tentar se explicar”, ensina a comunicóloga.
Para quem quer aprender a combater o machismo, Maytê diz que é preciso conhecer, desconstruir e crescer no pensamento para então poder expressar pela linguagem. “Hoje em dia, na internet e redes sociais, temos abundância de informação para construção de um repertório que não reproduza falas machistas”, afirma ela, que dá uma dica para reconhecer o discurso machista. “Essa afirmação que estou fazendo é reducionista ou atribui uma característica ao gênero? Se sim, é machista. Por exemplo: ‘seja homem’, ‘coisa de mulherzinha’ ou ‘sente como uma mocinha’”.
A linguagem que usamos hoje nos acompanha desde a infância e, muitas vezes, temos essas afirmações enraizadas. A perpetuação das falas machistas têm consequências como o gender gap - termo usado para definir a diferença no tratamento entre mulheres e homens na sociedade, distinção de cargo em empresas, disparidade salarial, entre outros -, e a síndrome da impostora - quando a mulher não acredita no seu potencial e tem a sensação de não pertencer àquele universo masculino, por isso precisa trabalhar mais para ter algum reconhecimento.
“Precisamos falar sobre o tema e propor o diálogo sempre, não somente no mês da mulher: protagonismo, voz ativa e ocupação de espaços de poder se dá com uma agenda feminista interseccional e dialógica”, conclui Maytê.
O assunto será abordado no curso gratuito Persuasão e Influência: o Poder da Fala, ministrado por Maytê Carvalho na Casa do Saber. As quatro aulas estarão disponíveis no site da instituição até o dia 23 de março.
O machismo, segundo a comunicação, é também um problema cognitivo. A fala revela dinâmicas invisíveis de poder e influência. Saiba como identificar e combater o discurso machista.
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