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Memórias que sobraram de uma história cada vez mais distante

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Por Redação
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"Ninguém assiste a filme brasileiro, não, os estrangeiros são muito melhores", disse Gabriel Silva, 14 anos, quando questionado pelo Estado sobre a presença do cineasta baiano Glauber Rocha em sua cidade, Monte Santo (BA), meio século atrás. O adolescente, que estava na praça no centro da cidade, nunca ouvira a história na escola ou em casa.Ao seu lado, Elizabeth, que optou por não revelar o sobrenome, concordou com a avaliação do jovem. "A turma só compra DVD de filme americano, que é melhor, e todo mundo conhece os atores", disse ela, que trabalha na maior farmácia do município.Uma das poucas lembranças da presença de Glauber Rocha e sua equipe em Monte Santo surge quando o Estado visita a escadaria de pedra que leva à capela no alto da serra de Santa Cruz. Os degraus serviram de cenário central em Deus e o Diabo na Terra do Sol. Um idoso se aproximou do repórter e do fotógrafo Ed Ferreira para questionar o que faziam ali. Ao ser avisado da ocasião dos 50 anos das filmagens do marco fundador do Cinema Novo brasileiro, ele - que pediu para não ser identificado - lembrou que a grande diversão dele e dos colegas, que participaram como figurantes no longa metragem, era notar que o responsável por dirigir o jipe que carregava a equipe e as máquinas de filmagem em Monte Santo interpretava um cego no filme.O idoso de Monte Santo fazia referência ao motorista Marrom, que representa no filme a personagem Cego Júlio. Foi Marrom quem avisou Glauber que no município vizinho de Milagres (BA) o cineasta Ruy Guerra filmava Os Fuzis. Glauber ficou furioso ao saber que sua ideia de retratar o sertão brasileiro nos cinemas tinha sido copiada. Sua reação foi simples: escreveu artigos para os jornais baianos criticando a invasão estrangeira do sertão. Em tempo: Ruy Guerra nascera em Moçambique. / J .V.

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