
14 de maio de 2012 | 03h09
Um poético espaço negativo se formava (como o espaço entre Blake e o resto da programação) no diálogo entre ritmos enxutos, o piano e os falsetes lamentosos do produtor inglês.
Quando Blake tocava, seus acordes eram véus ininterruptos de harmonia. Inchavam e distorciam-se na medida em que a música inflava, criando ápices de lirismo envolvente. A fórmula encontrada pelo músico para reproduzir seu híbrido de soul e dubstep ao vivo, e dar à música eletrônica a vibração do momento, é algo notável. Se em alguns momentos, como quando envereda para o dançante, peca pela ausência do visceral, do suingue (talvez por ser muito comportada e britânica dentro do que se propõe a fazer), em outras constrói um intimismo obstinadamente eficaz e arrebatador. Isto literalmente, pois quando Blake desfere os graves de seu sintetizador Prophet 08, faz tremer tudo e todos em volta do palco.
Na primeira noite do Sónar, o show mais eficiente ficou por conta dos retrocafajestes do Chromeo, que trouxeram o feijão com arroz que faltava a um evento de música dançante. Nada muito cabeça, tampouco refinado. Apenas electrofunk com refrões contagiantes, tocados em sequência compacta para tirar a pista do chão. Foi um prazer culposo (para quem tem culpa de alguma coisa) extremamente bem-vindo.
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