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Megan Fox, uma garota comum e as tartarugas ninja

Grávida, atriz chega aos 30 como principal estrela da sequência do megasucesso

Por Pedro Antunes
Atualização:

Megan Fox, descalça, senta-se de lado, com as duas pernas sobre o sofá, enquanto cobre a barriga saliente da terceira gravidez com uma almofada encontrada naquela suíte de um hotel caríssimo decorada de forma razoavelmente singela, poucos móveis. A parede quase na sua totalidade é formada por grandes janelas de vidro, através das quais o mar azul de South Beach, em Miami, nos Estados Unidos, refletia o sol escaldante do lado de fora. Na suíte, a atriz que divulga o novo As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras, filme cuja estreia no Brasil está marcada para dia 16 de junho, encolhia-se de frio. 

“Estou bem”, ela diz, ao ser questionada pela ajudante se gostaria de algo a mais para se cobrir. “Essa almofada está me esquentando o suficiente.” Megan não havia chegado oficialmente aos 30 anos – completados recentemente, em 16 de maio, uma semana depois do encontro com o Estado –, mas já é experiente no jogo de Hollywood. Surgiu ao mundo graças à câmera para lá de indiscreta e vulgar de Michael Bay, diretor que a escalou para participar do primeiro filme da franquia Transformers como interesse amoroso do personagem de Shia LaBeouf. Já que Bay fazia a mínima questão de dar bons diálogos para a moça, foram seus olhos imensamente azuis e o corpo pequeno e torneado que a colocaram debaixo dos holofotes desde aquele lançamento, em 2007. 

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A partir de então, a vida dela foi parar nas manchetes – a cada nova gravidez ou briga com o marido, o ator Brian Austin Green (ou ex-marido, é melhor confiar nos tabloides). E ela também é sempre visada em qualquer promoção de filme do qual participe. No caso dos dois longas dessa nova versão das Tartarugas Ninja, quando ela é o mais próximo de uma protagonista em carne e osso – afinal, as estrelas foram criadas por meio de computador com captura de imagem de atores com roupas ridículas e cascos gigantes –, Megan é escalada para se tornar uma espécie de porta-voz do longa. 

E o faz com facilidade, garante. “Não diria que fiz milhares de entrevistas hoje”, ela brinca, “mas foram, pelo menos, duas dúzias delas”. Contudo, ela não aparentava um terço do cansaço de Stephen Amell, ator mais conhecido por interpretar o protagonista da série de aventura Arrow que entrou na franquia para viver Casey Jones, uma espécie de interesse amoroso de April O’Neil, repórter vivida por Megan. Amell, por algumas ocasiões, cochilava enquanto ouvia as perguntas. Megan, por sua vez, joga o jogo. Sorri e não desgruda os olhos azuis daquele que está do outro lado da mesa de centro que separa entrevistado e entrevistador. 

“Eu sabia que queria interpretar a April O’Neil antes mesmo de existir um roteiro do filme anterior”, ela explica, citando o primeiro longa da nova franquia que marca o reencontro com o diretor Michael Bay, desta vez com ele atuando como produtor. Megan garante ser fã dos quatro irmãos tartarugas que, por experiências genéticas, ganham formas humanoides, capacidade de raciocinar, treinados por um rato sábio e igualmente mutante, e fãs de pizza. Criados em 1984, pela dupla Kevin Eastman e Peter Laird, nos quadrinhos, cada um dos irmãos leva o nome de um pintor da renascença, Leonardo, Rafael, Michelangelo e Donatello, e têm personalidades bem distintas. “Acho que essas diferenças entre eles (as tartarugas) são responsáveis por fazer com que cada criança se encontrasse dentro daquele quarteto”, avalia a atriz sobre o sucesso dos personagens durante a década de 1980 e 1990, quando os répteis treinados na arte ninja ganharam versões em animação para TV e filmes, nos quais atores reais vestiam-se espalhafatosas fantasias de borracha. 

O personagem preferido de Megan durante a sua infância nos anos 1990 era Michelangelo, a tartaruga que opta por detalhes da cor laranja no seu uniforme e é conhecida por ser a mais brincalhona e atabalhoada dentre as quatro. “Eu, de fato, era muito parecida com ele”, ela admite, sobre a própria juventude. Filha mais nova de pais separados desde cedo, criada em uma família evangélica, a atriz define a si própria na época como “bobona, brincalhona mesmo”. “Eu sabia ser genuinamente doce, mas era também uma criança completamente besta.”

Ela ri, provavelmente presa dentro das próprias lembranças. Megan, então prestes a chegar 30 anos, encontra-se em uma fase de reflexão da carreira. Revelou, por exemplo, que evitará, de agora em diante, cenas de nudez ou sexo, porque não gostaria que seus três filhos a vissem daquela forma nos seus filmes. Para quem despontou como sex symbol de uma Hollywood machista e sedenta por novos rostos (e corpos) a idolatrar, ela não teve grandes chances de mostrar mais do que um belo par de olhos azuis nas telonas. Colocada como objeto sexual em filmes como Garota Infernal (2009), O Anjo do Desejo (2011), O Ditador (2012), Bem-Vindo aos 40 (2012), a atriz teve mais sorte na TV, quando ocupou o posto de Zooey Deschanel, que se tornou mãe, na série New Girl, com críticas bastante favoráveis.

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Ainda é pouco, contudo. E a crise dos 30 bateu forte na garota – quem já passou por ela ou está prestes a embarcar nesse turbilhão de questionamentos sabe do que se trata. “Acho que muita gente foi capaz de entender quem é e qual é o seu lugar no mundo durante a adolescência, mas isso não aconteceu comigo naquela época”, revela a atriz. Ela foge do protocolo das entrevistas por atacado e, sem medo, fala de si, e não da personagem April O’Neil, que novamente colocará as Tartarugas Ninja em uma nova enrascada em Fora das Sombras. Até a postura dela, com as costas anormalmente eretas, relaxa e a atriz se encosta no sofá vermelho. “Também era igualmente perdida durante meus 20 e poucos anos. Me perguntava quem eu era. O que deveria fazer? Agora, estou próxima dos 30 anos e essa pergunta ainda me atormenta.”

O tempo de entrevista rigorosamente cronometrado chega ao fim, como faz questão de dizer a assessora que controla o entra e sai de jornalistas na suíte da atriz e principal estrela do novo Tartarugas Ninja, mas Megan ainda não acabou o que queria dizer. “Você sabe do que estou falando, certo? A crise dos 30. Ela é muito desafiadora. Entorpece você de questões existenciais.” Quando percebe, a atriz está divagando em pé, caminhando de um lado para o outro. “Todos os dias, me pergunto por que a vida é dessa forma e por que eu sou assim.” De volta ao sofá, sentada da mesma forma como começou o papo, ela se endireita e, por fim, completa: “São questões que devemos pensar a respeito. Só não sei dizer se, algum dia, teremos a resposta sobre quem somos”.

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