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MATUTOS E ELETRIFICADOS

Grupo recebe hoje, no Auditório Ibirapuera, o violeiro Índio Cachoeira para reforçar suas modas de rock

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Antes soava como provocação. Ricardo Vignini, grandão e cabeludo, olhava torto quando diziam que o que ele fazia com o Matuto Moderno era o mais puro rock and roll. Vignini passou a criar sons com viola por achar que o rock havia ficado careta demais, ousado de menos. Merecia uma violada nas ideias para voltar a surpreender. Até que o termo "banda de rock" deixou de ser um problema quando percebeu que os caipiras são primos-irmãos dos bluesmen. Seu grupo, o Matuto Moderno, volta com o quinto disco de uma carreira de quase 15 anos. As extremidades na junção que fazem entre o sertanejo e o rock pesado estão mais salientes. A proposta ganha força em canções como Topada e Manacá e um convidado que não está no disco deixa o show que eles fazem na noite de hoje, no Auditório Ibirapuera, mais especial. Índio Cachoeira, violeiro e mentor de Vignini desde seus primeiros encontros, em 2009, seria John Lee Hooker se tivesse nascido nos Estados Unidos. Um roqueiro por formação, Vignini cria diálogos com o parceiro que tiram as dúvidas de parentesco entre os gêneros. Sua viola é carregada nas frases de blues e nos riffs de rock and roll enquanto Cachoeira ponteia a tradição do interior de São Paulo. Os sinais de que colocar o sertão ao lado do Mississippi não era um surto vieram da plateia. "Em um mesmo show a gente via moleques de camiseta preta que levavam os pais para mostrar que rock and roll não é só barulhão e pais levando os filhos para mostrar que música sertaneja não é careta", diz Vignini.Cachoeira não vendeu a alma ao Diabo, como mandam as lendas do blues, mas tem lá seus caprichos. Ele trabalhou como motorista de ônibus por 27 anos, compondo versos durante suas viagens. Com sangue de pataxó nas veias, achou um violão velho e quebrado em um latão de lixo. Mergulhou a peça em um balde de água, descolou suas partes e refez o instrumento. Mas, em vez de seis cordas, colocou dez. Sem saber tocar, afinou os ouvidos e fez sua primeira viola. "Nem lembro quem me ensinou alguma coisa de viola. Só sei que aprendi", diz. Estar em um palco, para ele, é uma vitória.

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