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Matriarcas da gravura mostram sua arte

Maria Bonomi e Renina Katz expõem juntas na Galeria Multipla gravuras inéditas reunidas sob o título de Vigência, por refletirem a continuação e a vitalidade de suas produções individuais

Por Agencia Estado
Atualização:

Maria Bonomi e Renina Katz, mais que grandes nomes da nossa produção em papel, verdadeiras matriarcas da gravura no Brasil, mostram suas criações recentes lado a lado, ou melhor, embaixo e em cima, nos dois andares da Galeria Multipla, em São Paulo. A mostra, que será aberta nessa quinta-feira, para convidados, não apenas reafirma a importância histórica das duas artistas, pelotão de frente da resistência do ofício da impressão. Atesta também a vitalidade e a continuação de suas produções individuais. Daí o título da dobradinha, Vigência. O andar de baixo ficou com Maria. Nele, Gabriel Vlavianos, que hoje coordena a Multipla, dispôs em forma de cruz um conjunto de litografias circulares, impressões em cores diferentes de O Inventor. Ao lado, as losangulares Hydras (que Maria considera pequenas, embora meçam 1,20 m por 1,20 m). A exposição representa a dimensão monumental do trabalho da gravadora mesmo utilizando trabalhos médios. Faz referência, por exemplo, aos seus painéis, que se multiplicam pela cidade (ainda este ano, a artista entrega um em concreto, com 5 m por 12 m, para o Parque Villa-Lobos). A mostra de Maria é fortemente marcada pela relação entre os suportes que recebem a sua gravura. Se seus painéis estão sugeridos pela composição de quadros, suas esculturas em bronze, alumínio e latão, estão presentes, organizadas no centro do espaço e nas vitrines da galeria. Elas apresentam os sulcos das matrizes em corpos escultóricos. Com formas que sugerem folhas, as Naiades e as Ninfas são peças que parecem ceder aos gestos da gravação. É como se as esculturas se tornassem curvas no momento em que são talhadas, ganhando formas orgânicas côncavas, femininas. Divulgação"Sempre me coloco na condição de protagonista dos meus trabalhos", diz Maria Bonomi Reinventando a própria gravura, Maria Bonomi apresenta a série litográfica Acrobata, de matriz redonda, em posições diferentes. Maria recortou as impressões, expondo seu personagem em ângulos diferentes, imprimindo um movimento cinematográfico à composição. "É também uma forma de entender o cubismo", comenta ela. "Sempre me coloco na condição de protagonista dos meus trabalhos", observa a artista plástica, que dividiu o mesmo espaço com a amiga Renina no ano passado, no Museu Histórico Nacional do Rio durante o Mês da Gravura, que ajudou a organizar. Durante a montagem dessa edição do encontro, Renina Katz se deu conta de que estava completando 50 anos de carreira. "Levei um susto quando o Gabriel me falou sobre isso." A primeira obra da mostra de Renina, que ocupa o andar superior da galeria, é o sexto trabalho da célebre série Ode ao Negro. O trabalho, realizado este ano, contém elementos das criações dessa família, a imagem circular ao fundo e as marcas de uma paisagem sugerida, um reflexo da memória de algum lugar. "Sem dúvida que são imagens associativas. Nada é completamente abstrato", observa Renina, que não pretende encerrar a série com esse trabalho que expõe pela primeira vez. "Já tenho até as placas dos dois próximos trabalhos prontas", adianta a artista plástica. Mas, além da criação inédita e sua anterior, Ode ao Negro 5, a montagem de Renina, de trabalhos menores e menos coloridos que os de Maria, conta com obras de períodos anteriores, que traçam um caminho possível para a compreensão da obra de meio século da artista plástica. O Bisão, de 1991, por exemplo, traz a figura das paredes das cavernas, a imagem rupestre faz lembrar que a gravura é ainda anterior às pinturas sobre pedra. Símbolo da força e da criação o animal de Renina nasceu do acaso, de uma textura interessante que a artista descobriu no verso de uma matriz. Por isso, também é uma amostragem da segurança com que a gravadora lida com as possibilidades da linguagem que elegeu, por mais inesperadas que sejam. Olívio Tavares de Araújo, que escreve o texto do catálogo da exposição, define a atuação das duas artistas e amigas como uma espécie de missão. "Participantes antigas e denodadas dessa luta, Renina Katz e Maria Bonomi a prosseguem com brilho e até ousadia. Estão entre os poucos artistas do País para quem o passar dos anos não se traduz em debilitação ou diluição de si próprios. São coerentes - o que é muito diferente. E permanecem motivadas, trabalhadoras, empenhadas, vivas e generosas." Maria Bonomi e Renina Katz. De segunda a sexta das 10 às 19 horas; sábado, até 14 horas. Multipla de Arte. Avenida Morumbi, 7.986. tel. 241-0157. Até 16/11. Abertura, quinta-feira, às 20 horas. Patrocínio: DM9DDB

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