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Masp recebe obras roubadas, mas ainda enfrenta clima de denúncia

Por FERNANDA EZABELLA
Atualização:

Apenas parte do novo sistema de segurança do Museu de Arte de São Paulo (Masp) estará funcionando quando a instituição reabrir para o público na sexta-feira, após o pior incidente de sua história, com o roubo de telas de Picasso e Portinari em dezembro. A administração do museu, que recebeu críticas pela fragilidade da segurança, também enfrenta denúncias de funcionários sobre o descaso com o edifício, um cartão-postal da cidade. O prédio do Masp, da arquiteta Lina Bo Bardi, apresentaria três pontos de goteiras toda vez que chove. A presidência nega. Segundo três funcionários, que pediram para não ter seus nomes divulgados, o Masp também funcionaria sem a presença de bombeiros. O presidente do museu, Julio Neves, não negou a falta de bombeiros e ainda admitiu que estão "fazendo todas as revisões junto com o Corpo de Bombeiros". Sobre o novo esquema de segurança, o presidente afirmou que duas empresas estão ajudando na instalação de equipamentos de última geração -- a LG Eletronics e a GP Guarda Patrimonial. A LG irá instalar sistema equivalente ou melhor do que possui o museu do Louvre, em Paris, segundo Neves. Mas todo o sistema, que terá peças vindas de fora, não estará pronto até sexta-feira. "Vai estar funcionando o sistema de segurança (antigo). Agora, vamos trocar (o sistema) nessa evolução, na medida que eles (equipamento novo) chegarem", acrescentou Neves durante a entrevista, da qual também participou o secretário Estadual de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão. Neves admitiu, no entanto, que "só Deus pode garantir o que vai acontecer". Nesta quarta-feira, a Polícia Civil de São Paulo entregou ao museu as obras roubadas, consideradas as principais do acervo, em uma operação nesta manhã que contou com mais de 10 viaturas, helicóptero e homens armados de fuzis. Curiosos que se aglomeraram no vão livre do museu para ver a entrega de "Retrato de Suzanne Bloch", do pintor espanhol Pablo Picasso, e "O Lavrador de Café", de Cândido Portinari, aplaudiram na hora da chegada dos quadros. A polícia recuperou as obras na terça-feira, em uma casa em Ferraz de Vasconcelos, região metropolitana da capital. Duas pessoas foram presas por suspeita de envolvimento no crime, e uma terceira ainda é procurada. INVESTIGAÇÃO Pouco também foi dito sobre as investigações do roubo. Sobre a informação de um possível pedido de resgate de 10 milhões de dólares pelas obras e que os bandidos receberiam 5 milhões de reais pelo serviço, publicada pelo jornal Estado de São Paulo, o secretário Marzagão não confirmou, nem negou. Disse apenas que "as investigações são sigilosas". "Não vou falar nada, porque senão eu atrapalho (as investigações)", disse. O roubo no Masp por três ladrões em uma ação de três minutos com um macaco hidráulico e um pé-de-cabra detonou discussões sobre a qualidade da administração do museu. A segurança era feita por homens desarmados, e as obras -- avaliadas em 55 milhões de dólares -- também não tinham alarmes ou sensores. Antes do roubo, duas tentativas foram feitas, supostamente pelos mesmos ladrões, segundo a polícia. O governo federal e a Prefeitura demostraram interesse em participar do conselho do museu. O Ministério Público Estadual analisa documentos contábeis do Masp para avaliar suas dívidas e se pode funcionar sem uma intervenção. Neves chamou os que defendem uma intervenção no museu de "oportunistas", mas afirmou que toda ajuda é bem-vinda. Arquiteto há mais de 10 anos na presidência do Masp, Neves repetiu que não será mais candidato após o fim do seu mandato em outubro.

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