Masp conclui reforma com mais polêmica

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Por Agencia Estado
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Maior e mais importante museu da América Latina, o Museu de Arte de São Paulo deve ter sua primeira grande reforma concluída no fim do mês, após 6 anos de obras e R$ 20 milhões de gastos. Com seu novo "layout", vem a polêmica - ou melhor: mais polêmica. Entre as inúmeras modificações que o prédio sofreu - quase todas criticadas por arquitetos e preservacionistas -, os espelhos-d´água da parte posterior do edifício foram soterrados para dar lugar a jardins. "Lá tem de ser jardim mesmo, é perigoso, tem mil problemas de segurança", justifica o presidente do museu, o arquiteto Júlio Neves. Segundo Neves, os espelhos-d´água do Masp estiveram desativados durante dez anos e precisavam ser redimensionados. Os lagos que dão frente para a Avenida Paulista foram recuperados, mas agora têm pouco mais de 10 centímetros de profundidade. "Antes, era preciso 300 mil litros de água para encher aquilo, uma coisa absurda, e tivemos de refazer com um fundo falso para manter os espelhos", argumenta Neves. Para Graziela Vallentinetti, irmã da arquiteta Lina Bo Bardi e presidente do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, a intervenção descaracteriza o prédio, tombado pelo Condephaat e em estudo de tombamento pelo Iphan. "Não sei como está o Masp, procuro ir lá o menos possível, porque sempre que vou passo mal", diz Graziela. "Eu acho que o prédio deveria ser modernizado nos seus serviços essenciais, como o ar-condicionado e a manutenção, e não modificado na estrutura, porque ele é um marco de São Paulo e da América do Sul", afirma ela. Segundo Graziela, a forma original do edifício era cercada de espelhos d´água, com plantas aquáticas. Modificar isso é modificar o conceito do edifício. "Eu não aprovo isso, e não é porque sou irmã da Lina, mas é a minha opinião pessoal", disse. O edifício do museu, erguido em 1947, recebe não só atenção dos órgãos nacionais de preservação como também dos internacionais. O acervo conta com obras de Rafael, Andrea Mantegna, Botticceli e Bellini; de pintores flamengos como Rembrandt, Frans Hals, Cranach ou Memling e espanhóis como Velazquéz e Goya. A maior parte do núcleo de arte européia do Masp é de pintura francesa, com pintores como Nattier, Delacroix, Renoir, Manet, Cézanne, Degas. Dos pós-impressionistas é possível apreciar vários quadros de Van Gogh ou de Toulouse-Lautrec. A forma de exposição desse acervo era definida pela arquiteta do edifício, Lina Bo Bardi, em cavaletes especiais de vidro. Esses cavaletes, que já foram adotados até em museus do exterior (caso de Chicago, nos Estados Unidos), também foram "aposentados" pela atual direção do museu. Estão agora armazenados no subsolo da instituição. "Não tenho nenhuma predisposição contra os cavaletes, nós ainda podemos fazer alguma exposição que use aquilo", diz Júlio Neves. Segundo ele, os novos painéis expositivos dão mais agilidade à exposição e são usados em diversos museus do mundo, como o Guggenheim de Bilbao e o próprio Louvre, em Paris. Em seu website, o Masp anuncia que procurou apresentar à população "um novo conceito de organização do 2.º andar - moderno, contemporâneo e inédito no Brasil - caracterizado por painéis totalmente móveis, vitrines e sistema de iluminação distribuídos de forma a proporcionar não só exposições rotativas de nosso acervo - com melhoras visuais para o visitante - como também, e principalmente, condições adequadas para o exercício de atividades de ensino e atendimento de grupos monitorados, prioridades estas que ensejam um novo dinamismo na atuação didática do museu". Outra modificação criticada é o piso do museu, trocado pela atual gestão. Arquitetos e urbanistas defendem o retorno do piso original, sob pena de descaracterização do edifício. Alta tecnologia - Segundo o arquiteto Neves, o prédio teve de ser "inteiramente reconstruído", porque estava muito malconservado. A reforma da pinacoteca do 2.º andar exigiu, segundo ele, a execução de serviços de alta especialização e tecnologia, como o reforço das vigas de sustentação, recuperação estrutural, impermeabilização da cobertura, reforma da caixilharia, troca de vidros, colocação de película de proteção de raios ultra-violeta, troca do sistema de persianas, nivelamento e troca do piso, troca de todo sistema de eletricidade, iluminação, ar-condicionado com filtros especiais e, ainda, a colocação do segundo elevador de acesso. Para a direção, isso tudo foi feito para oferecer mais conforto ao visitante, e de forma a garantir acesso a deficientes físicos. O maior trunfo dessa nova disposição é o segundo elevador incorporado ao edíficio, que atende dos subsolos ao 2.º andar. "Para fazer isso, nós não mexemos em nada", diz Neves. "O novo elevador foi colocado no mesmo lugar com o mesmo desenho - só aumentei um pouco a caixa", afirma. O presidente do Masp diz que a reforma o deixou satisfeito e é completa. Está mais preocupado agora, segundo afirma, com a extensão do museu na Galeria Prestes Maia, o Masp-Centro, que vai requerer R$ 5 milhões para ser terminado. Atualmente, a galeria sofreu apenas uma pequena adequação e abriga a exposição São Paulo - De Vila a Metrópole. "Esse museu faz parte de projeto de revalorização do centro de São Paulo e tudo o que mais precisa é de água, sabão, segurança, iluminação e a saída dos camelôs - essa é minha receita para o centro da cidade", afirma Neves, que ainda não tem definida qual a próxima exposição que realizará no espaço. Segundo o arquiteto, o maior problema atual para a continuidade das obras ali é a questão do financiamento. "Está duro conseguir patrocínio", diz. A reforma do Masp da Avenida Paulista consumiu R$ 20 milhões, dos quais apenas R$ 1 milhão veio do poder público (a prefeitura enviou a verba). Os outros R$ 19 milhões foram angariados com a iniciativa privada. O Masp reabre no dia 30 com a mostra de peças egípcias vindas do Museu do Louvre, de Paris.

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