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Máscaras

Um dia, ainda vamos rir de tudo isto, e nos internarão

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Por Luis Fernando Verissimo
Atualização:

Um dia, ainda vamos rir de tudo isto, e nos internarão.

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OLHAR Esse seu olhar, quando encontra o meu, me deixa na dúvida: você é mesmo quem eu estou pensando? Devo cumprimentá-la, apostando que o resto do seu rosto é conhecido, ou não? A máscara antivírus nos transformou, todos, em pessoas semi-familiares.

ASSIM Um dia, ainda vamos rir de tudo isto, criando um clima meio assim no grupo.

MEIO ROSTO Máscaras personalizadas introduziram um novo tipo de relacionamento entre humanos. Você passou a dialogar com meio rosto. A falar com os olhos dos outros e apenas deduzir sua fisionomia. O que é mais expressivo num rosto humano, os olhos ou o resto tapado? O que você sabe sobre alguém pela máscara que escolheu? – Essa sua máscara... – Já que somos obrigados a usá-las, que pelo menos elas façam uma declaração. Que tenham alguma utilidade social, além de apenas tapar nossas caras.  – Qual é a declaração que faz a sua máscara? – É um posicionamento contra a discriminação de mulheres e negros no mercado de trabalho. – Engraçado... Não é essa a mensagem que ela me passa.  – É que tinha pouco espaço... Ela também pode significar descontração no escritório depois de um dia de trabalho ou, ainda, detalhes de Guernica.

ADIVINHAÇÃO As máscaras obrigatórias também induzem a um inocente jogo de adivinhação. Que rostos, que surpresas elas escondem? E que ousadias permitem, desde que não se perca de vista que elas existem para combater o terrível vírus que ainda mata impiedosamente, em todo o mundo, e com o qual não se brinca? O jogo consiste em acertar que tipo de rosto corresponde a que tipo de olhos, e o vencedor ou a vencedora ganhar um beijo ou mais. Um jogo inocente, como se vê. Mas, do que este pobre mundo mais precisa, hoje, se não inocência, mesmo atrás de máscaras?

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UM DIA Um dia, nós ainda vamos rir de tudo isto, até nos darmos conta.

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