Mas lá fora, a história é outra

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Por Lúcio Ribeiro
Atualização:

Um dos principais eventos de música do planeta, o Reading Festival, geralmente com umas 130 bandas se apresentando em três dias do verão britânico, jamais colocou área VIP na enorme fazenda que abriga os seus seis palcos. Principalmente uma que seja encravada entre a banda atuando e seu fã entusiasmado. Quer dizer, o Reading até tem sim uma área que tira seus ocupantes da muvuca do público geral, com bebidas e comidas exclusivas, área de descanso longe do vaivém dos festivais e banheiros diferenciados. Mas ela, destinada a jornalistas e acompanhantes dos artistas ou da produção do evento, fica ATRÁS do palco principal, sem nenhuma visão de qualquer motivação de bandas ou de galera. Está no Reading e quer ver um show? Saia da área VIP.É assim nos conterrâneos Glastonbury e T in the Park, no francês Rock en Seine, no espanhol Benicassim. Os festivais americanos pensam mais nas "pessoas muito importantes" e têm grandes áreas Premium, para convidados ou para quem tem bom dinheiro para comprar ingressos caros. Nos gigantes festivais Coachella, da Califórnia, ou no Lollapalooza, de Chicago, duas enormes áreas VIPs são colocadas ao lado de seus palcos principais. Para ver as apresentações de outros tantos palcos, é preciso se misturar.As bandas não são amigas de áreas VIPs. Tom Morello, do Rage Against, quando soube das áreas Premium nos shows do Brasil e Chile, chegou a sugerir a aos fãs no Twitter que as invadissem.Em 2006, numa das apresentações da Vertigo Tour no Brasil, a irlandesa U2 soube que os organizadores daqui tinham planos de comercializar a preços elevados os ingressos para um setor pertinho do palco chamado de "hot area". A banda de Bono proibiu a venda. Quem comprasse ingresso de pista concorria a um lugar no espaço privilegiado, mediante sorteios e promoções lançadas pelos patrocinadores do show.Áreas VIPs na frente do palco surgiram por uma norma de segurança estabelecida em 2000. Um incidente no show da banda Pearl Jam no festival Roskilde, na Dinamarca, levou os festivais a recortarem os espaços para o público perto do palco e criarem áreas de escape. Nove fãs da banda morreram esmagadas naquele show, quando 50 mil entusiasmadas pessoas tentavam chegar mais perto da banda, segundo consta porque o som que saía do palco estava baixo. Parece que nessas áreas de público recortadas, em lugares como o Brasil, tiveram a ideia: "E se criássemos espaços para VIPs ali?"

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