Marx para novos leitores

Coleção Pequeno Filósofo apresenta teoria de importantes pensadores

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Por BIA REIS
Atualização:

"Guten Tag!", diz o filósofo Karl Marx escondido sob um lençol. E logo avisa: não está morto, é de verdade, de carne e osso. O tecido, conta, serve apenas para enganar aqueles que o perseguiram na Europa, fazendo com que fosse de Berlim para Paris, então para Bruxelas e, por fim, para Londres. Mas o que Marx faz embaixo de um lençol?Esse é o ponto de partida de Ronan de Calan, professor de Filosofia da Ciência da Universidade de Paris, para falar de capitalismo, trabalho, luta de classes, opressão ao trabalhador e leis de mercado, entre outros tantos temas, para crianças e jovens. Em O Fantasma de Karl Marx (editora Martins Fontes), Calan - mestre, doutor e Ph.D. em Filosofia -, conta uma história fictícia, porém com fatos reais, para destrinchar conceitos que a princípio parecem ser de difícil compreensão para um público não habituado a discussões filosóficas.O Fantasma de Karl Marx integra a coleção Pequeno Filósofo, formada por cinco livros (mais informações nesta página).A história de Calan começa na Silésia, na Alemanha, onde famílias de modestos camponeses plantavam trigo em suas glebas e o vendiam na cidade. Um dia, ouvem do comerciante que trabalhadores da Vestfália haviam comprado novas máquinas agrícolas e, por isso, estavam oferecendo o produto a um custo bastante inferior. "De agora em diante, será com eles que negociarei, não com vocês", despeja o comerciante. "Não me olhem desse jeito: a culpa não é minha, são as regras do Mercado!"Sem dinheiro para comprar sementes, no ano seguinte os camponeses colocam suas casas à venda. O comerciante, bem-sucedido, se propõe a comprá-las, mas impõe o preço. Sem terras para produzir, eles vão procurar trabalho na cidade, onde acabam se tornando tecelões em domicílio. Tecem dia e noite, num ritmo veloz, e aos poucos constroem uma casa, compram móveis, resgatam a esperança. Tempos depois, o comerciante decide que as peças estão caras. "As fábricas de Frankfurt me vendem mais barato. De agora em diante, é com elas que irei negociar", fala. E os tecelões vão procurar emprego em uma fábrica de tecidos, onde passam a engrossar o proletariado.Marx fala, então, da vida dos trabalhadores nas fábricas, da ambição dos proprietários por mais lucro e uma mão de obra cada vez mais barata e de propriedades. E questiona o preço das mercadorias. "Será a utilidade (...) que estabelece seu preço? Se assim fosse, o preço das mercadorias variaria constantemente em função do que cada pessoa estimaria ser útil nesse ou naquele momento da vida."Como se propõe no início do livro, Marx dá um desfecho alegre para o que chama de uma história triste. Afinal, "de que adianta inventar fins se eles não forem felizes?", pergunta. Para compor um cenário sombrio, o ilustrador Donatien Mary utiliza basicamente tons de preto, vermelho e azul. Aos seus olhos, os trabalhadores não têm rostos, apenas os patrões. Os desenhos das produções nas fábrica se integram ao texto e dão a real dimensão de quão mecânicas eram.Os outros livros que fazem parte da coleção são de autoria do filósofo Jean Paul Mongin e foram ilustrados por diferentes desenhistas. Neles, o escritor usa a mesma estratégia: construir uma narrativa ficcional com base no pensamento do filósofo em questão, Immanuel Kant (1724-1804), René Descartes (1596-1650), Santo Agostinho (354-430) e Sócrates (470-399 a. C.).Em O Gênio Ardiloso do Dr. Descartes, o filósofo, físico e matemático francês começa a refletir sobre realidade e ilusão quando o luar projeta no chão de seu quarto de estudos a silhueta de seu papagaio, Baruch. Além dessa discussão, Mongin trata também das teorias sobre o sonho e a existência de Deus. Nas ilustrações, François Schwoebel cria um mundo em que não é possível saber o que é, de fato, real.Aqui, as reflexões são bem mais subjetivas do que a concretude das de Marx. As duas, porém, podem ajudar crianças e jovens a entenderem - ou pensarem sobre - a condição humana e os desafios da nossa sociedade.

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