Marquês de Sade inspira livro, peça e ciclo de filmes

O Centro Cultural São Paulo e a Galeria Olido iniciam hoje mostra Sade no Cinema e na quinta-feira a professora Eliane Robert Moraes lança Lições de Sade

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Por Agencia Estado
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Uma casa fechada a olhares curiosos, onde representantes do governo, do empresariado e da Igreja se reúnem secretamente para as mais libertárias orgias. Uma leitura rápida pode convencer o leitor de que se trata de mais um escândalo em Brasília. Na verdade, é apenas um vestígio do mais importante texto do marquês de Sade, Os 120 Dias de Sodoma, que centraliza uma quinzena consagrada à obra do homem que se dedicou com ferrenha dedicação a provar que a liberdade humana só se realiza plenamente no mal. Hoje, a partir das 16 horas, o Centro Cultural São Paulo e a Galeria Olido iniciam a mostra Sade no Cinema, com exibição de filmes pouco ou nunca vistos no Brasil. Já na quinta-feira, Eliane Robert Moraes, professora de Estética e Literatura na PUC-SP e uma das maiores conhecedoras da obra do marquês, lança o livro Lições de Sade (Iluminuras), na Livraria da Vila. Finalmente, no dia 5, o Espaço dos Satyros inicia a temporada de Os 120 Dias de Sodoma, que também é lançado agora em livro pela mesma editora. É curiosa tamanha divulgação para uma obra que, na sua época, foi publicada na clandestinidade, sentenciada ao fogo, censurada ou mesmo proibida. Foram quase dois séculos de um silêncio imposto. "Ela só foi liberada para a venda nas livrarias de Paris depois dos gritos libertários de 1968", conta Eliane, que participa no sábado de um debate ao lado do tradutor Contador Borges no Centro Cultural São Paulo. "Na verdade, tal condição de maldita só fez com que a obra sofresse com especulações duvidosas que, muitas vezes, apontam para preconceitos e equívocos." Nascido em 1740, Donatien-Aldonze-François de Sade era herdeiro de uma grande família da aristocracia francesa, o que lhe reservava acesso aos requintes de prazer da corte. Hábito que logo o conduziu à carreira que marcou definitivamente sua vida e obra: a libertinagem. Depois de se dedicar à prostituição e ao jogo, Sade, já casado, tornou-se amante da cunhada e praticou dois crimes de libertinagem, que resultaram em processos. Perseguido pela sogra e procurado pela polícia, ele viveu os últimos anos de liberdade Hospício de Charenton. Sade passou os 27 anos seguintes na prisão (13) e em um sanatório (14), até morrer em 1814. Foi neste período que produziu Os 120 Dias de Sodoma, escrito em um rolo de papel grosso de 12 metros de comprimento, especialmente encomendado por ele para esse fim. No livro, ele detalha as bases de seu sistema filosófico por meio da sucessão de 600 paixões sexuais classificadas em quatro classes - simples, complexas, criminosas e assassinas. É a história dos poderosos libertinos que obrigam jovens a participarem de um violento jogo de perversão. "Menos que contar a história da libertinagem setecentista, o que o marquês pretendia era examinar o ser humano em profundidade, conhecê-lo nas particularidades mais obscuras, dissecá-lo, se necessário", escreve Eliane, em Lições de Sade. "Era um filósofo de seu tempo que buscava, a todo custo, revelar a verdade sobre o homem." É por isso que, para ela, menos interessa as leituras políticas que se fazem da obra de Sade. "O que se destaca é a ferocidade do prazer."

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