Mario Prata troca amigos por objetos

Depois do polêmico sucesso com Minhas Mulheres e Meus Homens, o escritor lança Minhas Tudo, com suas observações do cotidiano. Se naquele livro o escritor se referia a amigos, parentes, amantes, agora é a vez dos objetos

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Por Agencia Estado
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Depois do polêmico sucesso com Minhas Mulheres e Meus Homens, Mario Prata lança um novo livro sobre suas observações do cotidiano. Se naquele livro o escritor se referia a ilustres e desconhecidos (amigos, parentes companheiros, amantes, pessoas queridas e outras nem tanto) para descrever situações engraçadas e curiosas, agora é a vez dos objetos, suas coisas queridas e outras nem tanto de servirem de pretexto para o cronista esmiuçar histórias pessoais, embrulhadas em descrições bem-humoradas. Minhas Tudo (Editora Objetiva, 179 páginas, R$ 18,90) chega às livrarias nesta quarta-feira e será autografado no dia 26, na Bienal do Livro. A publicação nasceu da experiência do escritor com a criação on-line. Durante seis meses do ano passado, o escritor trabalhou em público, utilizando a Internet como palco. "A primeira "minha coisa" que descrevi foi a carteira", lembra ele. "Tirei tudo de dentro e fui descrevendo no texto todo o seu conteúdo." Na carteira de Prata, tinha objetos como santinhos, cartão de telefone, coisas, enfim, que se pode encontrar em qualquer carteira. "Foi quando me dei conta de que meus dois livros anteriores, Minhas Vidas Passadas (A Limpo) e Minhas Mulheres e Meus Homens tinham essa preocupação de mostrar como o escritor é igual a todo mundo." Ele conta que só agora, ao chegar ao fim dessa "trilogia do homem comum", é que se deu conta de suas reais intenções ao expor o mais íntimo de seu cotidiano. "As pessoas acham que quem escreve tem musa e inspiração, mas não é nada disso", acrescenta. O livro todo é amarrado por verbetes. E não é por acaso que o autor começa por Livro. Nesse texto, o autor fala das "Obras Completas" de Dostoievski que é o que ele define por livro. E, segundo descreve o texto, o que ele define por livro é um volume que o acompanha há quase 40 anos e que nunca encorajou a leitura - como ocorre muito com os mortais comuns. Essa aproximação vale até quando a ficção "pousa" na crônica do escritor. "A distância entre a realidade e a ficção é curta, porém honesta", defende-se. E cita Nélson Rodrigues, que chamava de passarinho os fatos, cenas e acontecimentos inventados pelo cronista. "São fatos que não aconteceram, mas poderiam muito bem ter acontecido dentro daquelas condições literárias", continua. Ou seja, ficaremos sem saber se a desenvolta Véia Isabé, da história "Minhas Zona", que levantava a saia pros estudantes que passavam pela Vila São João realmente chupava jabuticaba com seu único dente. A maior parte dos textos é inédita. Mas alguns deles são conhecidos dos leitores de Mario Prata do jornal O Estado de S. Paulo e da revista Isto É. É o caso de Minhas Separação, uma comovente crônica sobre o drama de um pai no dia em que o filho vai morar só. No caso do autor, no dia em que ele sai de casa para o filho morar sozinho. Prata afirma que Minhas Tudo encerra sua luta pela humanização do escritor. O próximo livro, no qual está trabalhando há quatro meses, fala sobre uma parte, pequena, mas importante, desse trabalhador: o dedo mindinho. Além desse projeto, Mario Prata está envolvido com seu retorno ao teatro. Depois de 18 anos sem ser ter um texto encenado, ele volta aos palcos com Caçador de Rolinhas, que tem previsão de estréia em agosto, no Teatro Imprensa, sob a direção de Roberto Lage. Minhas Tudo. De Mario Prata. Editora Objetiva. R$ 18,90. 160 páginas

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