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Marília Pêra volta à comédia rasgada

A Filha da... trata de uma mulher obcecada pela princesa Diana e que ao se deparar com uma foto do príncipe Charles no jornal, atira contra o retrato. O problema é que seu marido estava atrás da foto

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma mulher é obcecada pela vida da princesa Diana, mas não esconde a frustração por não alcançar a mesma fama e virtude. Uma certa manhã, ao se deparar com uma foto do príncipe Charles no jornal, ela perde o controle e inesperadamente atira contra o retrato. O problema é que seu marido estava atrás da foto, lendo o jornal. Desesperada, ele pede ajuda à mãe, que hesita em chamar a polícia, pois não sabe se a filha realmente tinha a intenção de acertar o príncipe Charles. O drama materno domina os primeiros minutos de A Filha da..., peça que marca o retorno de Marília Pêra a um gênero do qual estava afastada, apesar do prazer com que interpreta: a comédia rasgada, na qual sempre exibiu suas infinitas qualidades. "Nos últimos anos, eu me dediquei mais a dramas ou temas românticos e sentia necessidade de fazer um texto engraçado", comenta a atriz que, com o diretor do espetáculo, Elias Andreato, decidiu adotar uma forma pouco usual no Brasil de iniciar temporada: desde a semana retrasada, o elenco faz ensaios abertos, no Teatro Vanucci, no Rio, em que o público é convidado a opinar por meio de críticas escritas, que vão servir como orientação para eventuais alterações no formato final espetáculo. Foram seis apresentações (duas na terça e quatro na quarta-feira) e, só apenas na primeira semana, a produção conseguiu somar 180 apreciações de um público que, a julgar pelas gargalhadas, aprovou a encenação. "O riso é o sinal mais evidente de aprovação, mas muitas pessoas decidiram apontar detalhes que podem ser reparados, como uma ligeira modificação na iluminação ou a retirada de um objeto que atrapalha a perfeita visão da cena", explica Marília, que estudou todas as observações dos espectadores para discutir com o diretor e o restante do elenco. Sem estréia - Os ensaios abertos de A Filha da... (os últimos ocorrem terça e quarta) eliminaram a tradicional apresentação de estréia, pois o espetáculo prossegue a partir do dia 24 com encenações normais. "Será uma continuidade natural, sem precisar daquele dia nervoso que inicia a temporada", conta Marília, que decidiu voltar à comédia com uma homenagem a grandes artistas do riso do teatro brasileiro. No papel da mãe da mulher que atira contra o próprio marido, Marília utiliza o palco para fazer menção a diversos comediantes, como Dercy Gonçalves, Dulcina de Morais, Costinha, Grande Otelo, Oscarito e outros. As referências surgiram ao longo dos ensaios fechados. "Em algumas cenas, depois de dizer a fala, eu percebia que tinha me inspirado na Dercy; em outra, na Dulcina, até me convencer que uma homenagem cairia bem", conta a atriz, que termina exausta a cada apresentação, depois de se movimentar durante 1h15. "Claro que fiz tudo com o consentimento do autor da peça." O texto foi escrito por Carlos Eduardo Silva há dois anos. Em seguida, enviou uma cópia para Marília, pois criara o papel da "mãe" especialmente para ela. "Fiquei particularmente impressionada com A Filha da... e logo liguei para o Carlos Eduardo, contando minhas impressões", lembra. "Eu acabara de ler uma comédia engraçadíssima sobre corrupção: atual, irreverente, com toques de terror, suspense e jogos absurdos de poder entre fortes e fracos." Apesar de encantada com a peça, a atriz estava com a agenda comprometida e teve de adiar o projeto. Meses depois, quando estava em Brasília apresentando o musical Estrela Tropical, Marília soube que A Filha da... venceu o concurso nacional de textos teatrais inéditos, promovido pelo Ministério da Cultura. "Como eu já dispunha de tempo, liguei para ele e iniciamos o projeto." Ao mesmo tempo, a atriz começou a contatar possíveis patrocinadores - a confirmação veio da Eletrobrás, Rio Sul e do projeto EmCena (do MinC) e o apoio do hotel Glória e Localiza. Com o início das leituras, Marília fez outra descoberta: sua filha Nina Moreno adaptou-se perfeitamente no papel da mulher fascinada pela princesa Diana. "Ela se preparou em vários cursos feitos nos Estados Unidos e se revelou uma grande comediante." Os outros papéis são representados por Alexandre Barbalho, que faz o marido da mulher, e Luciana Coutinho, que interpreta a amante do marido. Não é a primeira vez que Marília Pêra submete um trabalho à apreciação do público antes da estréia. Em 1985, quando interpretou Brincando em cima Daquilo, ela participou de uma leitura ao lado de estudantes de teatro. E, ao dirigir Marco Nanini e Ney Latorraca no clássico O Mistério de Irma Vap, as primeiras sessões foram para avaliação de convidados. "A diferença é que agora não são apenas pessoas conhecidas, mas gente interessada em uma boa comédia", comenta a atriz que, apesar do fervoroso apoio recebido nas críticas deixadas pelo público, recebeu uma contrária. "A pessoa não se identificou, mas confessou estar constrangida por presenciar uma atriz do meu porte interpretando uma comédia de um nível baixo, no estilo da Dercy. Sempre é um alerta para que evitemos excessos."

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