Marilena Chauí: filosofia para todo público leitor

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Por Agencia Estado
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A filósofa, professora e escritora Marilena Chauí lançou, no ano passado, a mais ambiciosa aventura de um pensador brasileiro, Nervura do Real - Imanência e Liberdade em Espinosa (Companhia das Letras), o primeiro volume de uma obra monumental sobre o grande filósofo holandês do século 17. O livro foi agraciado com o Prêmio Jabuti e já está em sua terceira reimpressão. Trata-se de uma análise de mais de 900 páginas do pensador que Marilena vem estudando desde 1967 (e a quem dedicou seu doutorado e sua livre-docência) e que pode ser lida por públicos distintos: o leigo, o filósofo que pouco conhece Espinosa ou aqueles que pretendem aprofundar seu conhecimento sobre o mestre seiscentista, que não pensava a divindade como um ser transcendente e externo ao universo, mas como substância única que constitui o próprio universo. Marilena impôs-se um prazo para terminar o segundo volume, que trata da questão da liberdade: até o fim do ano. Nada espantoso para quem apresenta uma inesgotável capacidade de produção - seu trabalho de difusão do pensamento filosófico engloba outros nomes do passado (La Boétie) e contemporâneos, como Claude Lefort, que a considera a introdutora de sua obra no Brasil. Atuante desde a juventude, Marilena continua ligada ao Partido dos Trabalhadores, que lhe permitiu a experiência de cuidar da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, na gestão de Luísa Erundina, hoje no PSB. Desse período, guardou valiosa lembrança sobre a realidade que confrontou e os problemas nacionais. Professora de filosofia da Universidade de São Paulo, onde conseguiu o primeiro lugar no vestibular de 1959, ainda escreveu obras populares como O Que É Ideologia, que vendeu quase 100 mil exemplares, provando o alcance de um discurso político contrário ao liberalismo e favorável à expressão daqueles que não têm voz no corpo social. O sucesso reforçou o entusiasmo de Marilena que, graças a um impressionante didatismo e uma indisfarçável disposição em propagar a história do pensamento, entrega-se anualmente aos cursos iniciantes de filosofia na universidade, em que busca oferecer o caminho para se chegar às origens da atual situação brasileira. É o tema, aliás, de seu último lançamento, Brasil, Mito Fundador e Sociedade Autoritária, em que tenta demonstrar a grande despolitização além da insensibilidade do governo.

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