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Maria Stuart, com Julia Lemmertz e Lígia Cortez

Peça é construída sobre fatos históricos, mas disputa de poder de seu texto permanece atual e atraente

Por Beth Néspoli
Atualização:

Temendo desagradar ao público, muitos transformam em prosa os versos de Shakespeare e retiram a poesia das tragédias gregas. Pois uma corajosa equipe de 13 atores dirigidos por Antonio Gilberto e capitaneados por Julia Lemmertz chega à cidade com Maria Stuart, de Schiller, na contramão dessa tendência. Na tradução de Manoel Bandeira não há coloquialismo, o tratamento é em terceira pessoa, a linguagem poética. A reportagem do Estado acompanhou uma apresentação no Festival de Curitiba e constatou que o efeito pode ser hipnótico.

 

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"O texto é lindo e cada ação leva a outra. Quando o espetáculo começa é como se um pavio se acendesse", diz Julia Lemmertz. O espectador acompanha a partir daí um rastilho de pólvora até a morte da rainha de Escócia Maria Stuart (Julia), decapitada a mando de sua prima Elizabeth (Ligia Cortez), soberana da Inglaterra. O autor construiu sua peça sobre fatos históricos, mas aborda de tal forma a disputa de poder que seu texto permanece atual e atraente, ou seja, um clássico.

 

Num Brasil onde presidentes são depostos e tesoureiros e suas namoradas assassinados soam familiares as intrigas palacianas que se sucedem em perfeito encadeamento e ritmo vertiginoso no espetáculo. Interesse que se amplia porque a visão de conjunto é só do espectador, ou seja, só ele acompanha as tentativas de conselheiros e ministros de ‘puxarem o tapete uns dos outros’, a manipulação da fé religiosa na disputa entre católicos e protestantes, e as artimanhas para influenciar as decisões da soberana.

 

Maria Stuart, como sugere o título, é a protagonista. "Schiller tem sim uma clara preferência por ela, mas

não há maniqueísmo", diz Julia. Encarcerada, vive sentimentos contraditórios, o que possibilita interpretação intensa e atrai atrizes de talento, como Julia. Apropriadamente, a estreia nacional foi em Brasília.

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