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Maria Adelaide Amaral cria roteiro para Walter Salles

Além de trabalhar para o diretor de Central do Brasil, a dramaturga se equilibra entre roteiro sobre Elis Regina, uma peça sobre Tarsila do Amaral e um romance

Por Agencia Estado
Atualização:

É o trabalho que mantém a sanidade mental da dramaturga e escritora Maria Adelaide Amaral. Para se ter uma idéia do quanto esta portuguesa naturalizada brasileira produz, no momento, ela trabalha ao mesmo tempo em quatro projetos: dois roteiros, um para um filme de Walter Salles e outro que fala sobre sobre a vida da cantora Elis Regina para Denise Saraceni; uma peça teatral sobre a pintora modernista Tarsila do Amaral, e um romance para ser publicado pela editora Record. Tantas atividades são explicadas de maneira convincente pela escritora. "Sou ´workaholic´ e uma absoluta nulidade na arte de não fazer nada. Só encontro equilíbrio e bem-estar no trabalho, mesmo quando ele é demasiado e insano". Para escrever sobre duas grandes mulheres que participaram de maneiras diferentes da história do Brasil, a autora tem pesquisado durante horas. "Tarsila e Elis, embora diferentes, são personagens fortes e polêmicas. Me interessa desvendar as almas dessas mulheres". Não é a primeira vez que a escritora pesquisa a vida de uma mulher polêmica. Em 1983, Maria Adelaide escreveu a peça Chiquinha Gonzaga, Ó Abre Alas, em que dissecava a vida da compositora brasileira que rompeu as barreiras de preconceitos contra as mulheres. Em 1994, publicou Dercy de Cabo a Rabo, biografia da atriz Dercy Gonçalves. A peça sobre Tarsila foi encomendada pela atriz Estér Góes, que pretende interpretar no teatro a vida da criadora da tela Abaporu, símbolo dos modernistas. "A peça não fala somente sobre a vida e a arte de Tarsila, mas também sobre sua relação com Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfati". A história cobre o período que vai de 1922 a 1960 e deve ficar pronta em abril. Maria Adelaide também foi convidada para escrever o roteiro para o filme de Waltinho, mas o conteúdo permanece em segredo. "O João Emanuel Carneiro me ligou e disse que a história tinha a minha cara". Até o momento, o que se sabe a respeito do filme é que ele deve estrear em 2004 e terá no elenco Fernanda Montenegro, que trabalhou com o Walter Salles em Central do Brasil. O roteiro para o filme sobre Elis, que deve ser entregue em outubro, ainda não foi iniciado. "Tenho conversado com a diretora Denise Saraceni e nossa intenção é falar sobre toda a história de Elis, sem priorizar períodos." De todos os compromissos, o menos estressante é o livro, que está quase terminado. A obra vai fazer parte da coleção Amores Extremos e versará sobre a paixão. Como produz sem parar, Maria Adelaide encontrou em seus escritos um romance que trata da história de uma mulher de meia idade que se envolve com um garoto saído da adolescência. "Estou na fase final porque tenho de entregar o material até julho". A autora teria ainda outro projeto para trabalhar no momento, a novela A Dança da Vida, da Rede Globo, não fosse a decisão da emissora de adiar o trabalho. "Foi uma pena sobretudo pela razão alegada: o fato de estarmos em ano eleitoral. Este seria mais um motivo para discutir alguns assuntos. Não pretendia fazer discurso politicamente correto, que é muito chato. A ética seria usada como pano de fundo e adoraria poder provar que é possível discutir esse tema numa novela, com leveza e bom humor". Divergências com a Globo - Maria Adelaide e a emissora ainda tentaram negociar alguns itens que poderiam ou não ser abordados na novela. "A minha resistência acabou quando me recusei a abandonar o tema da corrupção política. Havia feito algumas concessões que não alterarariam a trama, como transformar um personagem que a princípio era uma prostituta numa entregadora de flores. Mas renunciar ao personagem corrupto seria o equivalente a trair a história principal da novela". A emissora respeitou a posição da autora e garantiu que a novela foi apenas adiada. "Prefiro acreditar que tenha sido assim". Maria Adelaide tem diversas premiações como autora de livros e de peças de teatros, mas passou a se tornar mais conhecida quando ingressou na televisão como co-autora de novelas de sucesso como A Próxima Vítima e o Mapa da Mina e autora de minisséries como A Muralha e Os Maias. A adaptação de Os Maias, obra de Eça de Queiroz para a televisão, que trazia no elenco Fábio Assunção e Ana Paula Arósio, foi sucesso de crítica e fracasso de audiência. Uma das razões para a rejeição do público à minissérie foi o difícil texto de Eça, que Maria Adelaide fez questão de preservar. A preocupação da autora em manter as particularidades do texto de Eça de Queiroz foi tanta que ela chegou ao extremo de participar da edição dos capítulos para evitar que os erros de português fossem ao ar. "Erros graves eram cometidos principalmente pelos atores mais jovens. Eles decoravam certo, mas na hora de gravar cometiam deslizes principalmente na regra de colocação de pronomes. Me incomoda bastante escrever uma frase correta e vê-la desvirtuada por alguns atores". O cuidado teve retorno. Maria Adelaide soube que a mãe do diretor teatral Gabriel Villela, que é professora, sentava os netos em frente à TV para assistir às minisséries e prestar atenção nas falas dos atores. Mas se o cuidado com os textos dos dois trabalhos foi similar, o mesmo não se pode dizer em relação à preservação da obra original. Em A Muralha, Maria Adelaide acrescentou novos personagens e tramas e alterou tempos históricos. "Na verdade, A Muralha foi mais inspirada na obra da Dinah Silveira de Queiroz do que exatamente adaptada. Em Os Maias foram raras minhas intervenções no sentido de modificar a história. Minha reverência por Eça de Queiroz me intimidou". A autora tem outros projetos nos quais gostaria de trabalhar. Maria Adelaide quer adaptar uma série de romances da literatura brasileira, começando por Erico Verissimo. E pensa também em levar para a TV Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, mas sabe que será difícil.

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