
29 de dezembro de 2011 | 03h06
As duas analogias são falhas. O barquinho do pobre sobe junto com o iate do rico, mas continua sendo um barquinho, à deriva, sem nenhum controle sobre as águas em que boia. E a nudez revelada pela vazão das águas não expõe o banhista a nenhum tipo de vexame - os governos têm se apressado a tapar suas vergonhas. Nenhum banco - fora as baixas no começo da crise, como a do Lehman Brothers - pagou por estar na água sem calção. Ao contrário, o Goldman Sachs lucrou como nunca na sua história, este ano. (O Goldman Sachs, todos lembram, foi o banco que aconselhou a Grécia no começo da crise e ao mesmo tempo apostou secretamente no fracasso do seu próprio plano).
Nenhum grande banco internacional precisa de maré alta para se manter no topo, boiam no ar. Nenhum deixou de ser respeitável - ao menos entre eles e pelos governos - por ter sido flagrado nu. Quer dizer: os bancos internacionais estão desmoralizando todas as analogias.
Indignação. Só para ser coerente: minha escolha para melhor filme de 2011 é Trabalho Interno, documentário sobre as falcatruas privadas e a cumplicidade oficial que deram na crise do mercado financeiro que continua até agora, nos Estados Unidos e no restante do mundo, e justifica a indignação que deu no movimento Ocupar Wall Street e em manifestações na Europa, que também continuam.
Imperdível. Leitura para o fim do ano: O Espetáculo Mais Triste da Terra, livro-reportagem do Mauro Ventura. Terrível e imperdível.
Ânimo. No mais, pensamentos simples, champanhe gelada e companhia quente. E fé em 2012, pois anos pares são sempre melhores do que anos ímpares, uma estatística histórica que eu acabei de inventar para nos animar.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.