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Marcelo Gomes, um brasileiro no American Ballet

A partir de maio, bailarino assume os principais papéis das peças do American Ballet

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Por Redação
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TONICA CHAGAS, especial O Estado - NOVA YORK - Quando surge no alto das escadas como o príncipe Siegfried em O Lago dos Cisnes e olha o elenco no palco, Marcelo Gomes, bailarino principal do American Ballet Theatre (ABT), vê o retrospecto da própria carreira naquela coreografia. "Fui um camponês, fui um aristocrata, fui Benno. E fui um substituto esperando nos bastidores", lembra Marcelo, nascido em 26 de setembro de 1979.

 

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Há 13 anos, ele se tornou o primeiro brasileiro contratado por uma companhia de fama internacional e, na temporada de primavera no Metropolitan Opera House, em Nova York, que começa em maio e comemora os 70 anos de criação do ABT, interpreta papéis principais em todas as 11 peças do repertório, além de estrear como Armand Duval, a grande paixão de Marguerite em A Dama das Camélias, que a companhia monta pela primeira vez.

 

Como uma das melhores instituições de balé do mundo, o ABT tem um dos mais ricos repertórios de clássicos do século 19, além de obras criadas por George Balanchine, Agnes de Mille, Antony Tudor, Twyla Tharp e Mark Morris. Marcelo entrou para o corpo de baile do ABT em 1997 e foi promovido a solista em 2000 quando, aos 20 anos, começou a fazer papéis que os bailarinos não ganham antes dos 25.

 

Dois anos depois, passou a bailarino principal e, nesses 13 anos atuando ali, dançou mais de 70 coreografias. Já o chamaram de "máquina de dançar" por alternar até três papéis em balés completos ou, durante uma temporada, dançar duas ou três coreografias em todas as apresentações.

 

"Acho que sou realmente um ‘work horse’ como dizem por aqui", diverte-se o bailarino. "Trabalho muito, mas isso me dá prazer. Não aguentaria só fazer uma ou duas horas de ensaio todo dia e depois ir para casa. Gosto de me sentir útil."

 

Ele passa o dia todo no estúdio do ABT. Chega ali pouco antes das 10 da manhã para fazer academia e às vezes, antes disso, já fez uma hora de natação. Na parte da manhã toma aulas e, do meio-dia às 7 da noite, ensaia. Quando volta para o apartamento que acabou de comprar, na região de Hell’s Kitchen, ainda tem uma caminhada obrigatória para exercitar Lua, sua Dachshund marrom de 7 anos, que também passa o dia no estúdio, zanzando à espera do dono.

 

Além das turnês com o ABT, ele é convidado especial de balés nos quatro cantos do mundo e encontra tempo para outros trabalhos que considera importantes. Nos últimos três meses, quando tinha folga da rotina no ABT às segundas, ensaiou com a companhia nova-iorquina independente Avi Scher & Dancers, com a qual fez três apresentações no Alvin Ailey Citigroup Theater no começo do mês.

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Criada há dois anos, essa companhia tem como objetivo formar plateias jovens para o balé neoclássico e contemporâneo, contando com bailarinos de primeira qualidade dispostos a pôr seu talento em novos trabalhos e pequenos espaços.

 

"Todo mundo fala da necessidade de novos coreógrafos, mas quase ninguém dá oportunidade para os novos", diz Marcelo. "Para um coreógrafo ir adiante, precisa ter bons bailarinos, um bom teatro, apoio. Se meu nome pode atrair um público que normalmente não veria um espetáculo como este, melhor."

 

Na recente turnê internacional de Kings of the Dance - espetáculo compartilhado com o russo Nikolai Tsiskarideze, do Bolshoi, o ucraniano Dennis Matvienko, do Teatro Mariinsky, de São Petersburgo, o canadense Guillaume Côté, do Balé Nacional do Canadá, e o americano David Hallberg, que também é um dos bailarinos principais do ABT -, Marcelo se destacou no solo de sete minutos Small Steps, criado para ele pelo coreógrafo Adam Hougland. "Poderia ser sobre as pequenas coisas que conquistei na minha vida", diz ele referindo-se ao título do trabalho que, em inglês, quer dizer pequenos passos.

 

É uma opinião modesta, tanto pelas longas, torneadas e elogiadas pernas que ele tem como pelo tamanho da sua determinação em ser bailarino, que o levou a viver sozinho fora do Brasil aos 13 anos para estudar sua arte e aperfeiçoar sua técnica. Na temporada de Kings, em Nova York, a performance dele mereceu crítica isolada no jornal The New York Times, que o definiu como "a embalagem completa de dançarino, ator e partner".

 

Adjetivos. O terceiro adjetivo não é devido apenas ao porte de 1,80 metro de altura, o que faz uma bailarina sentir-se segura e nas nuvens. Segundo a crítica de dança Gia Kourlas, Marcelo é "o Cary Grant do balé" pela capacidade de pôr de lado todo seu carisma em favor de sua Julieta, Gisele ou Odete. E entre as bailarinas começa a surgir uma pontuação especial: além de quantas vezes dançaram Gisele ou A Bela Adormecida, por exemplo, que são considerados alguns dos balés mais difíceis, elas agora contam quantas vezes dançaram com Marcelo, o melhor dos partners.

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