Marcelo Gleiser discute o desafio da imortalidade

Em A Harmonia do Mundo, astrofísico utiliza a história do astrônomo Kepler para tratar do legado dos grandes gênios

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Por Agencia Estado
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Os cientistas têm seus ídolos e o do astrofísico Marcelo Gleiser é o astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1629), que, como Copérnico, acreditava que os planetas giravam ao redor do Sol e não o contrário, como a Igreja pregava na época. "Ousar desafiar isso era desafiar a estrutura da fé cristã, do bem e do mal, do lugar ocupado pelo homem em uma cosmologia que combinava o natural e o sobrenatural", conta Gleiser, que escolheu a história de seu herói como tema de seu primeiro romance, A Harmonia do Mundo (Companhia das Letras, 328 páginas, R$ 42), cujo lançamento ocorre hoje no Teatro do Colégio Santa Cruz. Gleiser investiu em uma extensa pesquisa em busca de documentos e manuscritos originais, viajando por três semanas pela Alemanha, Áustria e República Checa. Foi uma imersão na história de Kepler . "Sentei-me à mesa em que ele se sentava, li o livro que ele estava lendo, foi muito emocionante", conta o astrofísico, que optou por uma curiosa alternativa literária: em vez de escolher Kepler como narrador, ele preferiu seu mestre e mentor, Michael Maestlin (1550-1631), um dos astrônomos mais talentosos da época. A Harmonia do Mundo começa quando Maestlin, já no fim da vida e angustiado por não ter dado ao pupilo o apoio de que necessitava, relembra a atribulada trajetória pessoal e intelectual de Kepler. Então modesto aluno de teologia, ele percebeu que a ciência estava além dos conflitos que na época dividiam católicos e luteranos e, mesmo contrariando os preceitos de Deus, acreditou na teoria de que os planetas cumprem uma forma elíptica ao redor do Sol, revolucionando a astronomia. "Um dos tópicos principais que busquei tratar é a discussão da mortalidade, a forma com que as pessoas garantem sua permanência neste mundo", comenta Gleiser. "Na realidade, só o grande gênio é que vai ser lembrado para sempre." Gleiser parece ter o toque de Midas - professor mais popular do Dartmouth College, renomada universidade americana, ele já escreveu dois livros de ciência de sucesso (A Dança do Universo, além de virar peça, já vendeu mais de 70 mil exemplares, e O Fim da Terra e do Céu deve inspirar uma minissérie de Luiz Fernando de Carvalho), além de apresentar, desde domingo, um quadro no Fantástico (uma série de 12 episódios, cada um deles com dez minutos, batizada de Poeira das Estrelas). Ele foi ainda consultor do novo filme de Cacá Diegues, O Maior Amor do Mundo, e tem um roteiro de ficção científica de US$ 120 milhões circulando por Hollywood. Cientista de boa reputação, Gleiser, ao discutir a imortalidade, garante a permanência de seus passos no futuro. A Harmonia do Mundo. De Marcelo Gleiser. Companhia das Letras. Teatro do Colégio Santa Cruz. Rua Orobó, 277, 3024-5191. Hoje, 20h30

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