BRASÍLIA - O ministro da Cultura, Marcelo Calero, pediu demissão ao presidente Michel Temer nesta sexta-feira, 18, que logo convidou o deputado Roberto Freire (PPS-SP) para comandar a pasta. Temer agiu rápido, na tentativa de não alimentar nova agenda negativa para o governo.
Segundo o blog da Coluna do Estadão, uma das razões que motivaram a saída de Calero foi o impasse em torno do projeto, aprovado no Senado na semana passada, que dá à vaquejada status de manifestações da cultura nacional e os eleva à condição de patrimônio cultural imaterial do Brasil.
Com um relatório do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) em mãos, o ministro chegou a pedir ao presidente Michel Temer que vetasse a lei. Encontrou obstáculos de ministros próximos ao presidente, que defendem ainda que Temer faça um evento grandioso para sancioná-la já que o tema teve muita repercussão com a manifestação de vaqueiros em Brasília. Freire é presidente nacional do PPS e ficou surpreso com o convite, feito à noite. "Vou analisar o que Calero fez e dar continuidade ao trabalho. O governo Temer é de ponderação, de diálogo, não acirra conflito", afirmou Freire ao Estado.
A carta de demissão de Calero foi entregue a Temer na noite de quinta-feira, no Palácio do Planalto. Na ocasião, o presidente pediu que ele reconsiderasse a decisão. No fim da tarde de ontem, porém, o então ministro ligou para Temer e disse que deixaria mesmo o governo, "por razões pessoais".
A informação oficial do Ministério da Cultura foi a de que Calero saiu por divergências com alguns integrantes do governo. Em conversas reservadas, auxiliares de Temer disseram que ele se desentendeu com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
Há tempos, o titular da Cultura tambémvinha reclamando de falta de verbas para executar os principais programas da pasta. Mesmo com o esforço do Planalto para aprovar no Congresso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento dos gastos públicos, porém, o governo gastou, no último dia 7, R$ 500 mil para a cerimônia da Ordem do Mérito Cultural, que premiou 36 personalidades do samba. Na ocasião, Temer elogiou Calero por deixá-lo "distensionado" com aquela celebração.
"Saio do Ministério da Cultura com a tranquilidade de quem fez tudo o que era possível fazer, frente os desafios e limitações com os quais me defrontei. E que o fez de maneira correta e proba", escreveu Calero, na carta entregue a Temer. "Durante os últimos seis meses, empreguei o melhor dos meus esforços, apoiado por uma equipe de extrema qualidade para pensar a política cultural brasileira."
Em maio, após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, Temer decidira extinguir o Ministério da Cultura (Minc). Calero havia sido convidado para comandar a Secretaria da Cultura, abrigada no Ministério da Educação.
Diante de inúmeros protestos, porém, Temer recuou e reativou o Minc, chamando Calero para ser o titular. Formado em Direito, ele também foi secretário de Cultura da Prefeitura do Rio, antes de chegar à Esplanada, em Brasília. Comandou a pasta após seu trabalho como presidente do Comitê Rio 450, criado para organizar a celebração dos 450 anos da cidade, em 2015. CRONOLOGIA
13 de maio Michel Temer extingue o Ministério da Cultura.
21 de maio Depois da forte pressão contrária da classe artística, Temer recria o MinC.
23 de maio Marcelo Calero assume o ministério.
25 de maio Um requerimento para a abertura da CPI da Rouanet é protocolado na Secretaria Geral da Câmara dos Deputados.
26 de julho O MinC demite 81 funcionários ligados a diversas diretorias e instituições importantes de sua estrutura.
3 de setembro Aos gritos de “golpista”, Calero tem o discurso interrompido no Festival de Cinema de Petrópolis.
18 de novembro Marcelo Calero pede demissão irrevogável do ministério, motivado por divergências com alguns integrantes do governo.