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Mão decepada é ponto de partida de peça em SP

No monólogo Três Cigarros e a Última Lasanha, que volta ao cartaz no CCSP, Renato Borghi interpreta um homem metódico que perde a mãe, sem lembrar como, e rejeita o implante. Escrito por Fernando Bonassi e Victor Navas, texto abre discussão sobre ausência de valores

Por Agencia Estado
Atualização:

Um homem segue uma rotina regrada, repetindo rigorosamente os mesmos atos a cada dia. Em um dado momento, em um restaurante executivo no qual habitualmente almoça uma lasanha, ele percebe que sua mão direita foi decepada, mas não se lembra como isso aconteceu. A última recordação antes do acidente é que fumara seu terceiro cigarro durante o café. Uma nova mão é implantada, mas ele, com o tempo, inicia um processo de rejeição. O desenrolar também metódico da história desse homem transformou a peça Três Cigarros e a Última Lasanha no texto mais aplaudido pelo público da recente Mostra de Dramaturgia Contemporânea, que ocupou, durante todo o mês de junho, o palco do Teatro Popular do Sesi. Um sucesso que garantiu o seu retorno, a partir de amanhã, na Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo. "A reação dos espectadores foi, sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes dos meus 43 anos de carreira", afirma o ator Renato Borghi, um dos idealizadores da mostra e responsável pela representação do homem que perde a mão. O monólogo, escrito por Fernando Bonassi e Victor Navas, tem a direção de Débora Dubois. A temporada não será grande, apenas três semanas. Em seguida, outras duas peças da mostra voltarão à cena - O Regulamento, de Samir Yazbek, e Remoto Controle, de Leonardo Alkimim, serão encenadas juntas, em uma temporada de duas semanas. "Somente um evento como a Mostra de Dramaturgia permite surgir textos sobre assuntos tão inusitados", comenta Borghi. "Nossa expectativa é encontrar outros espaços que aceitem abrigar experiências como essa." Três Cigarros e a Última Lasanha, aliás, foi a primeira contribuição que o ator recebeu ao convidar autores contemporâneos para compor a mostra. Bonassi e Navas inspiraram-se no caso verídico de um operário inglês, que sofreu um processo de rejeição ao receber o implante de uma das mãos. "O monólogo de 50 minutos me permitiu construir um texto baseado na argumentação, em que pudesse discutir a ausência de valores que marca nossa época", explicou Bonassi, quando a mostra começou a ser organizada, no ano passado. "Pensei exclusivamente no Borghi, porque a imagem mental que tenho do personagem é de um homem barbudo e atarracado." Renato Borghi acredita que um dos motivos que explicam o sucesso da peça é justamente a explanação de motivos que levam aquele homem metódico a rejeitar uma parte do corpo que não lhe pertence, mesmo sendo necessária. "O curioso é que as pessoas não se preocupam em descobrir como e por que a mão foi decepada (o que realmente não é importante), mas vão sendo seduzidas, aos poucos, pela explicação dele sobre a rejeição." Três Cigarros e a Última Lasanha. De Fernando Bonassi e Victor Navas. Direção de Débora Dubois. Duração: 60 minutos. De quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. R$ 10,00. Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho. Rua Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3277-3611. Até 4/8.

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