Manuscrito revela mudança na obra de Cassiano Ricardo

PUBLICIDADE

Por Igor Giannasi
Atualização:

A 44.ª edição da Semana Cassiano Ricardo começa hoje, em São José dos Campos (SP), com um boa notícia para os apreciadores do poeta e jornalista modernista: os manuscritos originais e inéditos do seu último trabalho, "Dexistência", considerados perdidos, foram encontrados e devem ser publicados em edição de luxo no próximo ano. "De todos esses poetas da geração de 20, ele é o único que passa por todas as fases do Modernismo e chega até a poesia concreta", afirma o jornalista Julio Ottoboni, curador da Semana, que é realizada pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Ottoboni soube do livro, produzido entre os anos de 1972 e 1973, no final dos anos 1980 pela filha de Ricardo. A obra, inicialmente prevista para ter seis partes, como indica seu prefácio, não chegou a ser finalizada pois o poeta faleceu no início de 1974, em 14 de janeiro, tendo acabado quatro delas. O material foi descoberto por acaso por um estagiário que ajuda Ottoboni na pesquisa de seu livro sobre o poeta - "Cassiano Ricardo - Poeta e Homem Plural" -, no próprio acervo do autor na fundação. Apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922, Cassiano Ricardo, que nasceu em 26 de julho de 1895 em São José dos Campos, foi um dos líderes do movimento ao lado de figuras como Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, participando ativamente dos grupos "Verde e Amarelo" e "Anta" - fase nacionalista do poeta. Já em 1937, junto com Menotti del Picchia e Mota Filho, fundou o movimento político "Bandeira", em contraponto ao Integralismo de Plínio Salgado. Nos anos de 1950 e 1960, aproximou-se da Poesia Concreta. "Ele tem um namoro bem intenso com os concretistas, mas depois rompe com o Décio (Pignatari) e o Haroldo (de Campos) e passa a falar que não faz parte do movimento, mas faz sim", lembra Ottoboni. Na avaliação do jornalista, "Dexistência" representa uma linguagem diferente dos trabalhos anteriores do poeta, mais pessimista, trazendo, como indica o título, "um sentimento de que seu tempo no mundo acabou". "Aí surge uma linha poética totalmente nova", diz Ottoboni.A SemanaRealizada desde 1967 e com a participação do poeta até 1970, a Semana Cassiano Ricardo tem como objetivo, além da homenagem ao autor, o incentivo da leitura. A abertura, a partir das 20 horas da noite de hoje, marca a reabertura da Academia Joseense de Letras depois de 30 anos no Espaço Cultural Cine Santana. Cassiano Ricardo ficará com o assento de número 1. Amanhã será a vez do show "Todas as Músicas de Cassiano Ricardo", com o violonista Marcílio de Sousa Lima, acompanhado por Kabé Pinheiro na percussão e Samuel Troni no contrabaixo. Eles apresentam um painel musical das oito décadas em que o poeta viveu, passando de Chiquinha Gonzaga a Cartola e Chico Buarque. O encerramento, no domingo, acontecerá no Teatro Municipal de São José dos Campos, com apresentação da Orquestra Sinfônica da cidade e o tenor convidado, Lenine Santos, com composições de Villa-Lobos, Guerra Peixe, entre outros, no repertório. A programação completa está no site www.fccr.org.br. Mais informações pelo telefone (12) 3924-7319.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.