"Manon" estréia só com cantores brasileiros

Trata-se de uma das mais importantes óperas do repertório francês. Todo o elenco de Manon é nacional e reúne um pouco do que há de melhor atualmente em nosso cenário lírico

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Por Agencia Estado
Atualização:

O público paulistano tem a partir de hoje a chance de conhecer um pouco da produção do Festival Amazonas de Ópera que, aos poucos, vem transferindo para a região norte o foco principal de produções operísticas do País. Bastante elogiada na época de sua estréia, no ano passado em Manaus, inicia temporada no Teatro Alfa a montagem de Manon, de Jules Massenet, uma das mais importantes óperas do repertório francês, constantemente negligenciado em nossos teatros - para se ter uma idéia, a ópera ficou quase 40 anos fora dos palcos antes de ser produzida na quinta edição do festival. Todo o elenco de Manon é nacional e reúne um pouco do que há de melhor atualmente em nosso cenário lírico. A única mudança com relação à montagem manauara é a presença do tenor Fernando Portari no papel de Des Grieux. No mais, Rosana Lamosa volta a interpretar Manon, um dos principais papéis de seu repertório, o barítono Paulo Szot será Lescaut, o baixo José Galisa canta o papel do conde Des Grieux. Denise de Freitas, Solange Siqueirolli, Magda Paino, Eduardo Amir e Marcos Menescal completam o elenco. A Amazonas Filarmônica, orquestra residente do Teatro Amazonas, e o Coral Paulistano, renovado pela maestrina Mara Campos, além do Corpo de Dança do Amazonas, também participam. A produção é encabeçada pelo maestro Luiz Fernando Malheiro e pelo diretor inglês Aidan Lang. Original de São Paulo onde trabalhou durante quase uma década no Municipal, Malheiro é atualmente diretor do Teatro Amazonas e, até o meio do ano, foi diretor musical convidado do Municipal do Rio, de onde saiu por divergências com o secretário estadual da Cultura, Antônio Grassi. Aidan Lang tem se tornado um velho conhecido do público brasileiro - já dirigiu em São Paulo as óperas Don Giovanni, Cavalleria Rusticana e I Pagliacci; no Rio, La Sonnambula; e, em Manaus, além de Manon, reedita a dupla com Malheiro na produção da primeira versão produzida no Brasil da tetralogia O Anel do Nibelungo de Richard Wagner, iniciada este ano com A Valquíria e com seqüência programada para o ano que vem, com Siegfried. A escolha de Manon deu-se por um pedido pessoal de Rosana Lamosa ao maestro Malheiro. "Um dos principais problemas que a ópera brasileira enfrenta é a falta de atenção de programadores aos nossos cantores e àquilo que eles podem interpretar. Decide-se a ópera e aí tenta-se encaixar cantores que, muitas vezes, são trazidos de fora. O caminho que propomos é diferente, é montar uma programação a partir das possibilidades de nossos principais cantores", diz Malheiro. Segundo o maestro, a estréia de Manon em São Paulo marca o início de uma colaboração entre o Teatro Amazonas e o Teatro Alfa. Sujeita às possíveis mudanças na orientação do teatro e do festival, a partir da troca de governadores no Amazonas, talvez seja cedo, porém, para assumir a concretização da parceria. No entanto, Malheiro acredita que, de qualquer forma, estão claras as vantagens da circulação de produções. "Fala-se sempre que a ópera é algo caro e, em alguns casos, isso é verdade. Mas, quando se reaproveita o que se produz, os gastos tendem a diminuir, instalando uma nova dinâmica no mercado interno." O custo original de Manon, em Manaus, foi de R$ 1,6 milhão. A remontagem em São Paulo vai custar ao Alfa cerca da metade, R$ 800 mil. "Isso dá também a chance de cantores se aperfeiçoarem dentro dos papéis, que, se não fosse assim, teriam poucas chances de cantar novamente." Dentro dessa idéia, o Municipal de São Paulo também trouxe à cidade uma montagem do Macbeth de Verdi, que estreou em Belém, no Festival do Teatro da Paz. Essas e outras questões relacionadas à produção de ópera no Brasil serão discutidas em um debate que o Alfa promove paralelamente à montagem de Manon. Quinta-feira, em encontro aberto ao público, Malheiro, os diretores Aidan Lang e Jorge Takla, o maestro Abel Rocha, o jornalista Nelson Kunze - editor da revista Concerto - e o pesquisador Sergio Casoy vão compor uma mesa mediada pelo jornalista Lauro Machado Coelho a respeito da situação da ópera no Brasil. Serviço - Manon. Obra em cinco atos de Jules Massenet. Duração 3 horas (com 2 intervalos). Quarta e sexta, às 20h30; domingo, às 17 horas; terça, quinta e sábado (7), às 20h30. De R$ 65,00 a R$ 180,00. Amanhã e sexta, das 18 às 19h30, grátis, Ópera Comentada palestra com o maestro Abel Rocha; quinta, às 20 horas, grátis, Encontro Sobre Ópera. Mediador, Lauro Machado Coelho. Com Aidan Lang, Jorge Takla, Luiz Fernando Malheiro, Abel Rocha, Sergio Casoy e Nelson Kunze. Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000. Até 7/12. Patrocínio: Oracle, Grupo Ultra e Embraer.

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