Manoel Carlos defende TV responsável

"TV é um bem público", diz o autor de Mulheres Apaixonadas

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Por Agencia Estado
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Manoel Carlos é um dos autores do melhor escalão da Globo que tem, pelo desempenho de suas novelas no ibope, lugar garantido no horário nobre. Hoje, prende a audiência com um emaranhado de intrigas de jovens e balzaquianas apaixonadas no cenário de um Rio de paz, bem diferente do mostrado pelo noticiário que antecede Mulheres Apaixonadas. Nesta entrevista ao Estado, Manoel Carlos defende a cidade que mostra na TV e diz que a personagem de Suzana Vieira, a mulher madura que assume romance com um jovenzinho, é um exemplo a ser seguido. O Rio está pegando fogo, com o crime organizado dando as cartas. Em "Mulheres Apaixonadas" você pinta um Rio quase suíço: glamourizado e sem violência. A ficção serve para amenizar a realidade? Manoel Carlos - O Rio é violento como tantas outras cidades, mas não deixamos de viver por conta disso. Meus personagens comentam a violência, o que acontece nas ruas, mas não se trancam em casa, assim como o resto da população. As praias permanecem cheias, os idosos andam no calçadão, as crianças saem a passear com seus cachorros. Exatamente como eu faço, minha família e meus amigos. Sua novela aborda o respeito aos idosos, o relacionamento entre faixas etárias e extratos sociais diferentes, o homossexualismo feminino, ciúme doentio, etc. De que modo essas mensagens são digeridas pelo telespectador? A abordagem de temas polêmicos motiva o público, desperta seu interesse, estimula sua atenção. As campanhas que normalmente incluo nas histórias que conto têm um saldo positivo, pelo que podemos avaliar. Qual é a função social da TV? A TV comercial não tem a função de educar, muito menos a de deseducar. Ao entreter, a TV deve transmitir mensagens positivas, mas sem prejuízo de uma boa dramaturgia. Por ser uma concessão do governo, a TV é um bem público, seu uso deve ser feito com responsabilidade. O SBT está produzindo novela com textos mexicanos. Você acha que o autor nacional perde com esse tipo de "importação"? Nada tenho contra a importação de textos ou mesmo programas gravados. Eu fui importado por vários países e nem por isso ameacei os profissionais locais. O que deve ser visto e discutido é a qualidade do que se importa. Mas fica muito claro que, no caso de teledramaturgia, essas importações só são realizadas por serem de baixo custo, já que não há no mundo autores melhores do que os brasileiros. Você fica incomodado como a paródia "Mulheres Recauchutadas" do "Casseta & Planeta"? Ao contrário. Eu me sentiria desprestigiado se a minha novela não merecesse a atenção da turma do Casseta. Gravo o programa deles em seguida ao capítulo da minha novela. Você acha que as coroas vão ficar menos constrangidas de se relacionarem com homens mais jovens depois da lição da Lorena? O público brasileiro sabe distinguir ficção de realidade. Mas Lorena é um bom exemplo e pode ser seguido.

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