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Manifesto na tela

Dirigido por Beto Brant, chega às telas curta que reúne música e cidadania

Por Flavia Guerra
Atualização:

Entre as raras oportunidades de assistir a curtas-metragens na telona, tem destaque a estreia de um projeto mais raro ainda: Manifesto Makumbacyber, realizado pelo coletivo Fata Morgana, com sessão hoje às 21h, no Cinesesc. Após a exibição do filme, que dura 12 minutos, haverá uma apresentação do grupo Bloco Afro Ilú Obá De Min, composto por 140 mulheres percussionistas. Os ingressos podem ser retirados gratuitamente uma hora antes da sessão. "Mais difícil que ver um curta no cinema, já que não há espaço de exibição fixo, é ver esses artistas tão únicos em performance no palco de uma sala incrível como o Cinesesc", comentou o cineasta Beto Brant, que assina a direção do filme. Manifesto, o curta, nasceu de forma espontânea, a partir da performance homônima fundado há 13 anos pelo artista multimídia, músico, cantor e compositor Xarlô, que professa, em uma manifestação catártica, as raízes da cultura africana. Com olhar que observa, o filme registra a estética e atuação do Manifesto com o intuito de mostrar o que os artistas contemporâneos da cidade têm proposto musicalmente, cenicamente e poeticamente. "Levamos em conta o legado histórico deixado pelas matrizes africanas. Nossa ideia é trazer o sagrado para as ruas. É ver como estamos ocupando nossa cidade", comenta Brant. Realizado em 2012, o filme foi rodado em duas situações. A primeira foi durante a abertura oficial do carnaval de São Paulo, em ocasião do desfile do Bloco Afro Ilú Obá De Min. Xarlô apresentou o Manifesto na abertura do desfile, quando uma multidão repetia: "Nós trazemos a Bandeira da Paz!", refrão da Makumbacyber. A segunda foi durante o Festival Catarse, que ocorreu na Casa das Caldeiras, em São Paulo, no mesmo ano. Criado pelo músico e compositor Luiz Gayotto, já reuniu, em dez anos de existência, mais de 600 artistas de várias regiões do País. "A escolha desses dois movimentos culturais se dá pelo fato de nossas histórias estarem fundidas em trabalhos mútuos e cooperativos, sendo seus fundadores, Bethi Belli e Gayotto, integrantes da Makumbacyber", comenta Xarlô. Já a ideia de filmar o Manifesto surgiu quando a percussionista Simone Sou, compositora da trilha sonora de Eu Receberia as Piores Notícias dos teus Lindos Lábios, dirigido por Brant, em parceria com Alfredo Belo, inseriu na trilha um poema de Xarlô. "O poema se chama A Conta e foi gravado pelo Xarlô na canção O Colar. Aí, quando ele me conheceu, comentou sobre o Manifesto e a ideia de registrar tudo nasceu", conta o cineasta. Manifesto, o filme, fica em cartaz no Cinesesc até dia 18, sendo exibido antes das sessões das 19 h do longa Las Acacias. Ao levar o curta para o cinema, o projeto também ocupa a tela, sempre tão reservada para os longas-metragens. Atualmente, com exceção de festivais e sessões especiais, não há espaço para a exibição de curtas nos cinemas brasileiros. "A ideia surgiu do pessoal do Cinesesc, o Gilson (Parker, diretor da sala) e da Simone Yunes (programadora), que viram o potencial para ver e discutir o filme", diz Brant. Mais que tomar as telas, o diretor vem investindo em seu projeto de conquistar a internet. Manifesto integra o projeto Mostra Grátis Cine (http://vimeo.com/mostragratiscine), que exibe gratuitamente filmes produzidos pelo Coletivo Fata Morgana e seus parceiro. Entre os trabalhos que já estrearam, estão Modo Ave, de Brant e Lu Brites, e Absurdo Fantástico, de Cisco Vasques. Manifesto entra em cartaz on-line em breve. "É o tipo de arte visual feita para navegar na web, para ser compartilhada, coletiva", comenta o diretor. Nesta empreitada de Brant, que tem vasta experiência no cinema tradicional, tudo é coletivo, inclusive a realização. Tanto que, a seu lado, Dimitre Lucho e Leonardo Maestrelli assinam a direção de fotografia do curta. "É o terceiro trabalho que lanço em formato pequeno. Enquanto em Movo Ave há o jogo lúdico da dança, neste existe a ocupação do lugar que nos pertence, da cidadania, do ritual do sagrado." Manifesto chega ao público em momento de intensa ocupação popular nas ruas do País. "Queremos que este trabalho some-se a este momento", defende o cineasta, que exibiu o filme há alguns dias na Mostra Internacional de Música de Olinda (Mimo).

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