Manifesto de 48 prega arte viva

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Por Agencia Estado
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O Grupo Cobra nasceu na sala do fundo de um café parisiense, em novembro de 1948. Durou apenas três anos, mas durante esse período conseguiu unir artistas de várias nacionalidades em torno de questões vitais para a sobrevida da arte após a tragédia por que tinha passado a Europa. O objetivo era criar uma arte viva, criativa e criadora. "Somente uma arte viva pode ativar o espírito criativo e somente essa arte tem validade geral", afirma o manifesto do movimento, assinado por delegados belgas, holandeses e dinamarqueses. Aliás, está na origem de seus signatários o motivo do nome do grupo. Segundo depoimento de Corneille, publicado no catálogo da exposição da Pinacoteca, foi o poeta Dotremont o responsável pelo "golpe de gênio" da criação do nome do grupo. Ele apenas associou as primeiras letras das três capitais - Copenhague, Bruxelas e Amsterdã. E obteve assim "um nome acessível em todas as línguas e que, como o nome Dada, evita os ´ismos´ que descreviam tantos outros movimentos." Essa é a menor das relações do grupo com os dadaístas e surrealistas. O novo estilo pictórico que esses artistas propunham tinha muito da liberdade inconsciente proposta pelo movimento liderado por Breton. "O grito do Cobra é o veículo de imagens vitais - desejo, natureza, vida (...); é um grito contra a matéria, na qual o formalismo escravizou o espírito", continua Corneille, um dos três principais expoentes holandeses do grupo, ao lado de Constant e Appel. A idéia de coletividade entre esses artistas não se restringiu apenas às mostras coletivas (a primeira, realizada em Paris, foi duramente atacada pela imprensa) e publicações, mas também envolveu a idéia de criação coletiva, como os trabalhos a quatro ou seis mãos que podem ser vistos na Pinacoteca. Constant atribui essas obras coletivas ao momento lúdico pelo qual passou o movimento, no qual pintura e poesia eram vistas como formas de jogo. "Essa concepção lúdica da arte está ligada às circunstâncias dos artistas: seu isolamento social, que os forçou a cerrar fileiras", diagnostica aquele que, segundo Jens Olensen, conseguiu ser o mais independente do Cobra desenvolvendo uma obra de intensa expressividade. Num diagnóstico tão terrível quanto realista, ele atribui ao próprio inimigo o fim desse sonho coletivo. Da mesma forma que o domínio do mercado havia levado esses jovens idealistas a unirem-se em torno de um projeto comum, foi a recuperação da economia e o sucesso individual de alguns de seus membros que teria levado o grupo a ter uma vida tão efêmera, mesmo que brilhante.

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