"Mandrake" aposta em sexo e violência

Inspirado no personagem de Rubem Fonseca, primeiro seriado nacional produzido pela HBO com a Conspiração Filmes estreou ontem

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Logo no começo do terceiro episódio de Mandrake, primeiro seriado nacional produzido pela HBO em parceria com a Conspiração Filmes, um empresário interpretado por Paulo César Pereio diz ao jovem advogado criminalista encarnado por Marcos Palmeira que já ouviu falar dele. "Cínico, inescrupuloso e mulherengo", diz Pereio. "Mulherengo pode até ser, mas cínico e inescrupuloso, não", responde Palmeira. Inspirado no protagonista dos contos e romances policiais de Rubem Fonseca, que dá nome ao seriado, o personagem chega à televisão numa versão atualizada: mais colorido e um tanto esvaziado de visão crítica. Nada a ver com a escolha de Palmeira, que se encaixa bem no perfil de Mandrake, um especialista em casos de chantagem e extorsão que oscila entre o baixo mundo e a elite cariocas. Dedica-se a proteger tanto as incautas filhas da alta sociedade acusadas de tráfico quanto a salvar prostitutas desprotegidas das garras de seus cafetões. O Mandrake literário, de Rubem Fonseca, se distancia do televisivo, adaptado por uma equipe de roteiristas que tem o Titã e escritor de romances policiais Tony Bellotto como colaborador, justamente pela medida do humor cáustico, do cinismo e da falta de escrúpulos. É como se as tintas fossem suavizadas para se adaptar ao formato e atingir um público apenas interessado em, palavra de ordem no universo cultural, "se divertir". O Mandrake televisivo mantém a ambigüidade do literário, mas em um tom mais leve e humorístico, como pede o protocolo do veículo. Ele tem duas namoradas, a sofisticada Berta (Maria Luisa Mendonça) e a jovem Bebel (Erika Mader); circula nos bares da zona sul com os colegas advogados e nas boates de striptease com os amigos policiais. Enxerga a vida e as pessoas com um cinismo e uma ironia quase ingênuas e não profundamente decepcionado com o mundo em volta dele como se via nos contos e romances. Como diretor geral e principal integrante da equipe de roteiristas, José Henrique Fonseca, filho do escritor, estabelece para o seriado um conceito que tenta equilibrar a carga literária ao apelo comercial do veículo. Fonseca aposta na linguagem ágil, quase documental, e em um visual muito colorido. Ele também carrega na nudez, no sexo e na violência como elementos catalisadores, o que não é exatamente algo novo nos canais de televisão por assinatura. No episódio de estréia levado ao ar ontem, A Cidade Não É Aquilo que se Vê do Pão de Açúcar, adaptação direta do conto O Caso de F.A., Fonseca estabelece essas diretrizes, que deverão ser seguidas, em maior ou menor grau, com mais ou menos talento, pela equipe de diretores convidados: Artur Fontes, Toni Vanzolini, Carolina Jabor, Lula Buarque de Hollanda e Claudio Torres. No geral, não é o que se costuma ver nas emissoras de sinal aberto e isso certamente faz uma grande diferença.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.