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Manara de olho nas garotas de Ipanema

Lenda da HQ erótica europeia vem ao País e anuncia álbum sobre brasileiras

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Em dentes, pernas, bandeiras/ bomba e Brigitte Bardot.O verso tropicalista de Alegria Alegria, de Caetano Veloso, cai como uma luva para definir o universo cheio de curvas do cartunista italiano Milo Manara, um dos mitos do quadrinho erótico europeu. Suas mulheres de bocas carnudas, pernas longilíneas e aspecto selvagem escapuliram diretamente de mais do que uma costela da atriz Brigitte Bardot - e caíram como bombas acariciantes há 40 anos no imaginário masculino de todo o mundo."No meu erotismo, a mulher é sempre um sujeito sexual, mais que um objeto", disse ao Estado o desenhista italiano, tentando explicar o protagonismo de suas Bardots. No dia 13 de novembro, às 20 h, o mestre das HQs preferidas dos onanistas dos quatro cantos do planeta descerá finalmente no Rio de Janeiro.A Rio Comicon 2010 vai ocupar a Estação da Leopoldina, no Rio, entre os dias 9 e 14 de novembro. Os convidados são artistas de altíssimo nível, como o premiado francês François Boucq; o editor italiano Claudio Curcio; os ingleses Kevin O"Neill (de A Liga Extraordinária), Melinda Gebbie (Lost Girls, mulher da lenda Alan Moore) e o também editor Paul Gravett; Etienne Davodeau e Patrice Killofer; o alternativo Jeff Newelt; e os argentinos Lucas Nine e Patricia Breccia.Manara contou ao Estado que prepara o derradeiro volume de sua história Bórgia, que narra a saga de Lucrécia Bórgia, filha de papa, uma crítica violentíssima à Igreja e suas instituições sagradas. "Depois disso, eu gostaria de me dedicar um pouco à pintura e à ilustração, e pode ser que eu me dedique, nessa viagem ao Brasil, a realizar um livro de ilustrações sobre as belas brasileiras."A primeira parte de Bórgia, Sangue para o Papa, foi engendrada com o parceiro chileno Alejandro Jodorowsky. Ali, Manara aborda o tema do poder absolutista corruptor da religião. Na história, Manara examina os porões do Vaticano, no papado de Rodrigo Bórgia, e a tirania que este exerceu sob o nome de Alexandre VI, ao lado da filha Lucrécia. A venda de indulgências, o nepotismo, a promiscuidade e a ganância pelo poder político, além de cenas de vampirismo, canibalismo, estupros e assassinatos, tingem de vermelho as páginas dessa HQ. "Meu amor pelos quadrinhos nasce nos anos 60, quando vi Barbarella, de Jean-Claude Forest; Valentina de Guido Crepax; Jodel et Pravda de Guy Pellaert e todas as histórias de Magnus", contou o cartunista. "Nos anos 70, eu lia muito revistas como Métal Hurlant e apreciei enormemente o gênio de Moebius, a quem todos os desenhistas devem muito. Evidentemente, toda minha vida profissional, e não somente ela, foi influenciada pelo meu amigo Hugo Pratt."Com Hugo Pratt, o veneziano criador do imortal personagem Corto Maltese, Manara fez o fascinante álbum Verão Índio (de 1983, HQ que só teve sua primeira edição no Brasil no ano passado, 22 anos depois, pela Conrad), e El Gaucho (1991). O desenho de Manara é primoroso, o humor é cáustico e irônico, o erotismo tingido com tintas do sadomasoquismo (pode tranquilamente ser considerado uma espécie de Sade dos quadrinhos). Como Guido Crepax (Valentina) e Serpieri (Druuna), é um craque em coreografar fantasias sexuais e usar o sonho como espaço para tratar do sexo como uma zona franca.Parceria. Por conta de sua liberdade formal e focos de interesse anticomerciais, ele é o também um antiamericano por excelência. Ainda assim, a indústria americana de HQs o convidou para desenhar um episódio da mais bem-sucedida história em quadrinhos da atualidade: os X-Men. Claro, como o convidado era Manara, deixaram-no à vontade para desenhar somente com as personagens femininas: Tempestade, Kitty, Vampira, Garota Marvel, Psylocke e Rachel nunca mais serão vistas da mesma maneira depois dessa edição. O parceiro escolhido foi um grande artista da indústria, o britânico Chris Claremont (que desenhou, entre outros, Conan, Luke Cage e Quarteto Fantástico)."Primeiro, eu pensava que seria difícil. Mas depois se revelou ainda mais difícil do que eu pensava", conta. Brincalhão, no prefácio da edição ele esclarece que, de todas as X-Men que desenhou, gostaria de ter os poderes de Kitty, para poder "passar através dos muros". Alegria, Alegria: o maestro de fantasias está a caminho!

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