
10 Janeiro 2016 | 02h00
Você não precisa defender nem o PT, nem o PSDB, nem o PQP para conseguir inscrever seu projeto em alguma lei de incentivo nem para a sua lei ser aprovada. 90% dos projetos são aprovados com apenas alguns cortes de custos e outros tipos de amenidades. Uma vez que seu projeto foi aprovado, o que isso significa? Significa que você tem uma chancela para apresentar para as empresas e conseguir o seu dinheiro.
O governo não dá a verba automaticamente nem fala para as empresas darem nada para você. Existe uma confusão bem grande nesse ponto. Muitas pessoas acham que o artista bate na porta do governo e recebe milhões. Não é assim que funciona.
Na Lei Rouanet, por exemplo, o que acontece é que qualquer empresa pode pegar até 4% do dinheiro que ela já pagaria de imposto de renda e reverter para algum projeto. Ou seja, você pode amar o Lula, ser o próximo assassino da Dilma que tanto faz, o governo não vai interferir em nada no seu projeto. Se o Itaú, a Nestlé, a TAM ou a padaria do Seu Zé quiser apoiar alguém pela Lei Rouanet, eles podem destinar esses 4%. É claro que essa porcentagem iria para o governo e, portanto, é do governo, mas quem decide o destino desse investimento é a empresa e não o governo. É assim que funciona no Brasil. Você pode questionar isso e dizer que o governo atua de forma paternalista e que as produções culturais deveriam ser autossustentáveis, enfim, pode discutir a teoria disso à vontade, mas não altera em nada o fato de que não existe petismo, nem tucanismo nisso.
No cinema, alvo preferencial dos acusadores, existem várias leis e editais que podem ser utilizados por qualquer um. BNDES, Banco do Brasil, Petrobrás, enfim, empresas públicas dão dinheiro para filmes do Paulo Betti, do Gregório Duvivier, Chico Buarque e também do Otávio Augusto, do Luciano Huck e da Regina Duarte. Não importa a posição política. E o cinema brasileiro só sobreviveu até aqui dessa forma.
No mundo, somente o cinema indiano e o americano têm estúdios que investem nos filmes diretamente; aqui, funciona como em muitos países da Europa, por exemplo.
Acho que precisamos rever as leis e os editais e aprimorá-los para não nos tornarmos dependentes eternos do sistema, mas antes de dizer por aí que artista gosta é de mamar, informe-se, porque artista gosta mesmo é de trabalhar.
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