MAM inaugura mostra de obras dos anos 80, 90 e 2000

Ao todo eles possuem cerca de 300 obras, quase todas incorporadas ao acervo a partir de presentes recebidos pela dupla

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Por Agencia Estado
Atualização:

Uma coleção de arte pode ser um diário de vida. Na grande sala do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), o fotógrafo e galerista Eduardo Brandão (sócio da Galeria Vermelho) mostra uma obra de Leonilson (1957-1993), Para o Meu Vizinho de Sonhos. É uma relação extremamente afetiva a que se faz entre aquele bordado sobre tecido do artista, datado de 1991, e o fotógrafo: "Não é só obra o que está aqui, é amizade", diz Brandão - basta nos prender ao título do trabalho e nada mais precisa ser dito. Leonilson, hoje um dos artistas brasileiros cujo trabalho é dos mais cobiçados, era amigo de Brandão já há tempos quando o presenteou com aquele bordado e outras tantas obras: eles até dividiram uma casa na Vila Mariana na década de 1980, tamanha a proximidade. Diário de vida é uma expressão do próprio Brandão para definir a coleção de arte que ele e seu parceiro, o jornalista Jan Fjeld, constituíram nos últimos 20 anos. Ao todo eles possuem cerca de 300 obras, quase todas incorporadas ao acervo a partir de presentes recebidos pela dupla, como no caso de Leonilson - foram quase sempre trocas entre artistas e os dois colecionadores, uma relação de convivência próxima, de conversas de generosidade, de simbiose. O resultado é uma coleção espontânea e afetiva, feita de maneira especial, aquisições que não se colocam na ponta do lápis. "Cada obra me lembra um acontecimento importante", diz Brandão, que, juntamente com Fjeld, resolveu colocar uma grande parte dessa coleção emotiva a público. Será inaugurada nesta quarta-feira, no MAM, a mostra Sem Título, 2006 - Comodato Eduardo Brandão e Jan Fjeld. A exposição, com curadoria de Andrés Martín Hernández e Carolina Soares, marca a doação, em regime de comodato, de 137 obras da coleção de Brandão e Fjeld ao museu - uma ação que faz ampliar ainda mais o acervo do MAM. Ao mesmo tempo, o MAM apresenta obra de Guto Lacaz como parte do Projeto Parede. É arte contemporânea brasileira, em sua diversidade e assinada por nomes já considerados fundamentais para a compreensão da produção das gerações 80 e 90 predominantemente, como Leda Catunda, Leonilson, Ana Maria Tavares, Sandra Cinto, Rosangela Rennó, Paula Trope, Daniel Senise, Beatriz Milhazes e Iran do Espírito Santo, entre tantos outros, o que se faz presente intensamente na coleção de Brandão e Fjeld - mas há também a produção recente, dos anos 2000. Como conta Brandão, na década de 1980 ele era fotógrafo de moda e publicidade e numa conversa informal surgiu a questão de que aquela Geração 80 que estourava no Brasil poderia ficar muito mais conhecida se suas obras fossem documentadas. "Como era envolvido com arte, comecei a fotografar a produção dos artistas", diz Brandão. Muitas vezes ele recebeu em troca pelas fotografias que fazia obras dos criadores - mas, de uma forma espontânea, muitas amizades se firmaram (a com Dora Longo Bahia foi uma delas e a artista, ao lado de Leonilson, é uma das mais bem representadas na coleção). Nesse movimento espontâneo de troca, por vezes compras, conversas, obras de todos os tipos como pinturas, esculturas, fotografias, objetos, desenhos, gravuras, livros de artistas, foram formando o acervo. Estáveis No processo de doação da coleção para o MAM, o diretor da instituição, Tadeu Chiarelli, conta que o critério de seleção das 137 obras foi o de incorporar trabalhos de artistas que já estão presentes na coleção do museu. A idéia é ampliar o número de obras de artistas que já são fortes no acervo do museu. "Os artistas que entraram agora são os que já estão estáveis. Como o MAM já é importante em se tratando desses nomes, pesquisadores e público poderão fazer mergulhos verticais na produção desses criadores, entender seus processos de criação, a constituição de suas poéticas", diz Chiarelli. Em termos de compreensão da recente história da arte brasileira é de valor cultural altíssimo a entrada em comodato de grande conjunto de obras de Leonilson, 21 trabalhos, que serão acrescentados às 14 obras do artista que o museu já possui Os colecionadores também doaram de forma definitiva três obras de Leonilson: uma realizada quando ele ainda estava na faculdade no final da década de 1970; uma pintura dos anos 80, feita sobre madeira; e, um bordado inacabado, que o artista começou antes de morrer. Sem Título, 2006 - Comodato Eduardo Brandão e Jan Fjeld. MAM/ Grande Sala. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, portão 3, Pq do Ibirapuera, 5549-9688. 3.ª a dom., 10 h às 18 h (5.ª até 22 h). R$ 5,50 (dom. grátis). Até 10/9. Abertura na quarta-feira, 19h30

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