Mais um Grammy para a Bahia

Caetano Veloso recebe hoje prêmio pelo conjunto da obra em cerimônia em Las Vegas

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

Os 70 anos de Caetano Veloso já foram festejados com um CD tributo, com regravações de 16 músicas suas (por Jorge Drexler, Tulipa Ruiz, Céu, Beck...) E com um site comemorativo, com toda sua discografia (áudios, encarte e letras), desenvolvido por sua gravadora, a Universal. Hoje, a festa será norte-americana. Ou melhor, latina.Pelo conjunto de sua obra de cinco décadas, Caetano foi escolhido a personalidade do ano da edição 2012 do Grammy Latino, realizada em Las Vegas. O único brasileiro que o antecedeu na honraria (ano passado concedida à pop star colombiana Shakira) foi o amigo Gilberto Gil, isso em 2003. O Brasil, que nunca deu muita bola para o Grammy, não vai assistir quando o compositor baiano for o centro de uma gala pré-cerimônia hoje, fechada a câmeras, durante a qual ele será reverenciado - a premiação oficial acontece amanhã. Artistas de diferentes estilos e procedências, como Natalie Cole, Nelly Furtado, Juan Luís Guerra, Juanes e Enrique Bunbury vão cantar seu repertório - as músicas não foram divulgadas, para manter o espírito de surpresa ao homenageado. Maria Gadú, Seu Jorge e Alexandre Pires formam a turma brasileira, desfalcada de última hora por Ivete Sangalo, que quebrou um osso do pé e desertou. Caetano fechará a festa no centro do palco, com Não Identificado - a preferida de seus pais.Amanhã, o TNT transmite ao vivo, a partir das 23 horas, a cerimônia do Grammy Latino, da qual ele também vai participar. Com o músico cubano Arturo Sandoval, vai de Odara e a canção porto-riquenha Capullito de Aleli, do CD em língua espanhola Fina Estampa (1994).O Grammy Latino tem 13 anos. O Grammy original - mais prestigiosa premiação da indústria da música -, 54. Caetano possui oito gramofones dourados do primeiro tipo e dois do segundo. Nessa edição do Latino, concorre em quatro categorias.Ele nunca esteve no Grammy. Em 2001, chegou perto, mas... "Eu me preparei para fazer uma bela participação. Fui para Los Angeles de Nova York em 10 de setembro. No dia 11, faríamos a apresentação. Ensaiei, com a banda do show Noites do Norte, a canção 13 de Maio. Estava lindíssimo, eu estava orgulhosíssimo! Mas aí meteram aqueles aviões no World Trade Center e não houve apresentação", contou ele, em entrevista há duas semanas, no Rio.Ele chegou a Las Vegas domingo para os ensaios; mais uma vez, vindo de Nova York. Antes da viagem, disse que se entusiasmava mais pela festa - na qual aparecerá vestido no capricho pelo stylist amigo Felipe Veloso - do que pelos louros. "Eu nem gosto muito desse negócio de homenagem, prêmio. Não gosto quando tem muita categoria, termino esquecendo quem ganhou o quê. Nunca vi a festa do Grammy, não tenho muita ideia de como vai ser. Tenho um pouco de preguiça da viagem, de ir a Las Vagas. É uma cidade tão insólita... Parece o Projac! Mas gosto da festa, de ver as pessoas."O interesse pela música latina atual passa pelo colombiano Juanes, a dupla de Porto Rico Calle 13, superpopulares e com forte presença no Grammy, e pelo reggaetón da América Central. Mas vem bem mais de longe. "Nós também somos latinos. No tempo do tropicalismo, eu encomendei a Gil e Capinam uma canção que fosse sobre a América Latina, que tivesse no título 'soy loco', mencionasse Che Guevara, 'el hombre del hombre muerto'. Desde o início era um tema importante para mim. Em Araçá Azul (1973) já tinha Tu me Acostumbraste." Caetano acabou de gravar o CD Abraçaço, o terceiro com os jovens músicos da Banda Cê (o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista Ricardo Dias Gomes). O lançamento será no fim do mês. São 11 faixas, todas compostas por ele este ano, e uma inédita do tropicalista baiano Rogério Duarte.Mais tributo. Milton Nascimento, outro septuagenário de 2012, e Toquinho também serão laureados. Com outros artistas da região, receberão da Academia Latina de Gravação o Prêmio à Excelência Musical, em cerimônia hoje também, sem exibição pela TV. As escolhas saem de uma votação entre os integrantes da direção da Academia. O esforço visando a uma aproximação com o Brasil vem sendo crescente. A barreira da língua, no entanto, é difícil de ser transposta. Falada em espanhol e em inglês, a cerimônia é a maior celebração da cultura hispânica transmitida pela TV nos EUA, país em que a proporção de latinos na população supera os 15%. Oitenta milhões de pessoas do mundo inteiro a assistem.

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