Mais paixão não faria nenhum mal ao Lope de Andrucha

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Ecos de Espanha chegaram a Veneza quando Lope estreou no festival italiano. Falavam de certa frieza de recepção, e uma colega daquele país confidenciou que um dos motivos era o ator que interpreta Félix Lope de Vega (1562 -1635), Alberto Ammann, que, argentino, "brigava com o sotaque o tempo todo". Essa sutileza de acentos, muitos de nós não perceberemos. Ou, percebendo, não nos fará o mesmo efeito provocado nos nativos da Espanha e que tiveram dificuldade de ouvir na variante argentina, trabalhosamente disfarçada, a voz de uma de suas glórias literárias. Para nós não faz diferença. Mesmo porque Ammann é bom ator. Faz parte de um projeto multinacional que abriga duas espanholas nos papeis principais, Leonor Watling e Pilar López de Ayala, além do diretor brasileiro e de Selton Melo e Sonia Braga. O problema é outro. O Lope de Vega histórico foi um gigante, pessoa rara. Atribuem-lhe centenas de peças, outro tanto de poemas e dezenas de filhos. Mulherengo e briguento, teria enfrentado a inquisição até se tornar ele próprio inquisidor. Viveu mil vidas, mas exuberância é o que falta na tela. Ela tenta estar lá, na trama, que briga com a linguagem acadêmica do filme da mesma maneira que o sotaque portenho luta contra o de Castela. São batalhas perdidas. Embora correto e muito benfeito, Lope não empolga. Falta-lhe o principal: paixão.

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